O Dicionário Biográfico de Cinema#136: Mike Figgis
Mike Figgis, n. Carlisle, Inglaterra, 1940
1988: Stormy Monday [Dia Fatal]. 1990: Internal Affairs [Justiça Cega]. 1991: Liebestraum [Liebestraum - Atração Proibida]. 1993: Mr. Jones. 1994: The Browning Version [Nunca Te Amei]. 1995: Leaving Las Vegas [Despedida em Las Vegas]. 1997: One Night Stand [Por Uma Noite Apenas]. 1998: The End of Sexual Innocence [A Perda da Inocência]. 1999: Miss Julie [Desejos Proibidos de Miss Julie]. 2000: Timecode. 2001: Hotel. 2001: The Battle of Orgreave (d). 2002: "About Time 2", episódio de Ten Minutes Older: The Cello. 2003: "Red, White and Blues", para The Blues (TV); Cold Creek Manor [Garganta do Diabo]. 2004: "Cold Cuts", um episódio de The Sopranos [Família Soprano]. 2008: Love Live Long. 2009: One & Other a Portrait of Trafelgar Square (d). 2010: The Co(te)lette Film (c)*. 2011: Lucrezia Borgia (c); China-Town. 2013: Suspension of Disbelief.
Ainda que Mike Figgis nunca tenha feito um filme estúpido ou desprezível antes de Despedida em Las Vegas, ainda não estávamos preparados para a intensidade desta obra. Ela prosperou por conta do baixo orçamento e breve cronograma de filmagens ter permitido a Figgis trabalhar sem ser perturbado? Foi por conta do romance autobiográfico (e suicida) de John O'Brien ter liberado uma espécie de emoção franca, até então velada? Ou foi porque os dois intérpretes - Nicolas Cage e Elisabeth Shue - aproveitaram a oportunidade dos papéis profundos, firmemente definidos, em uma trágica história de amor? Vamos assumir que todas estas coisas desempenharam uma parte. Isso significa que Figgis pode reproduzir tais circunstâncias favoráveis? Pode ele construir o filme americano mais revolucionário (e clássico) dos anos noventa? E é uma revolução agora fazer um filme tão simples, tão despido, tão modesto em seus meios e, ainda assim, tão grande em impacto?
Quando garoto, Figgis cresceu no Quênia colonial. Ao retornar à Inglattera, na área de Newcastle, gravitou em torno do jazz e um grupo de teatro chamado People Show. Foi com eles, que se desenvolveu enquanto escritor, diretor, ator, músico e engenheiro de som - e percebam que Figgis é uma destas pessoas que gostam de servir muitos papéis em um grupo unido. Foi rejeitado pela National Film School e assim se percebeu como um auto-declarado dissidente. Isto teve o resultado notável de fazê-lo incomumente aberto a material não-britânico.
Dia Fatal foi um auto-consciente noir e melancólica visão de Newcastle, com um bocado de jazz e uma segurança distinta ao lidar com violência de gênero. Mas a história humana nunca buscou profundidade. Justiça Cega, por outro lado, foi uma história policial ambientada em L.A. que incluía brilhantes análises de personagens - Richard Gere e Andy Garcia nunca estiveram tão bem e o manejo de Gere mostrou um talento raro em Figgis por ver recursos até então não testados. Também se sente como Figgis estivesse excitado por L.A., pelo local e sua instável sociedade.
Após isso, Liebestraum - Atração Profunda pareceu cultuado indevidamente e confuso, um fracasso, a despeito de sua bem vinda (mesmo que sombria) ressureição de Kim Novak. Mr. Jones teve grandes batalhas e mudanças forçadas, todas as quais abandonaram o tema central, que é o de um romance intrigante e esquizofrênico, e talvez um pouco além de Richard Gere. Uma refilmagem de Nunca Te Amei foi um primeiro sinal que Figgis poderia estar se deparando com dificuldades apenas permanecendo no trabalho.
Então, Despedida em Las Vegas - realizado em Super-16 mm por 3 milhões e meio de dólares - revelou nada menos que um grande diretor, responsável pela história, atmosfera e performances corajosas. Pode haver erros menores - um pouco de música além da conta, talvez - mas a beleza e a severidade do filme são perceptíveis, sentidas e mensuradas pelo diretor. O cinema americano nos anos 90 teve poucos triunfos, mas Despedida em Las Vegas foi aquele que acendeu uma luz sinistra sobre desastres mais caros. Também revela um Figgis verdadeiramente romântico, uma característica que Figgis é compelido a confiar e perseguir. Para este filme, quase demasiado sombrio de se ter, houve uma história de amor incomparável também.
O encorajamento do sucesso e as indicações somente fizeram Figgis mais independente, e mais deliberadamente explorador dos sonhos sexuais. Por Uma Noite Apenas (herdado de um roteiro de Joe Eszterhas, mas refeito) foi um estudo incomum de amor interracial. Mas A Perda da Inocência foi um afastamento radical rumo à fábula e a abordagem próxima da terapia. O baixo orçamento de Desejos Proibidos de Miss Julie apresentava pouco mais que uma obsessão por sua atriz, Saffron Burrows. Em acréscimo, Figgis editou Projection 10, talvez o mais coerente volume nesta série. É, de alguma forma, de sua natureza, ser arrumado e desarrumado contra todas as expectativas. Time Code chamou muita atenção pelas simultaneidades de sua tela dividida. Mas a maior preocupação de Figgis são as pessoas, não o maquinário.
Então, o que aconteceu com ele?
Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Film. Nova York: Alfred A.Knofp, 2014, pp. 885-87.
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