Filme do Dia: La Femme Image (1959), Guy Borremans

 


La Femme Image (França, 1959). Direção: Guy Borremans. Música: Ornette Coleman. Com: Roger Blay.

O longo improviso jazzístico corresponde menos a uma tentativa de equivalência nas imagens do que a sonoridade traz, tal como nas vanguardas da década de 20 (aqui lembradas pelo toque surreal do jogo de xadrez a la Entr’acte) que da deambulação errante de seu jovem protagonista, um tanto desvairado em sua sede de encontrar uma mulher (real? Irreal? Alucinação ou demasiado sólida ao ponto de lhe lançar um olhar de interrogação reprovativa quando a toca em uma rua?). A determinado momento, quando esbarra em outro transeunte, a câmera talvez desperte mais atenção do que o próprio, provocandoo retorcesso de algumas pessoas que vinham atrás. E é sintomático que isso se dê à época em que Acossado se preocupasse ainda menos com o flagrante de quem se vê sendo filmado (como na cena em questão) ou observa uma dupla de atores em plena ação (a célebre cena do Champs-Elisées do filme-marco de Godard). E compartilha com uma miríade de outros realizadores ao redor do mundo, da tentativa de expressar a ansiedade de corpos e mentes jovens diante de sociedades crescentemente permissivas, e nessa liberalidade crescente, entra em pauta com grande protagonismo a compreensão dos afetos e da sexualidade – o tom obsessivo do personagem pode vislumbrar paralelos com o posterior Dimanche Aprés-midi (1967), do realizador francês Jean-Claude Brisseau. E também o caráter experimental, a voz over dominante em tom digressivo (que lá “desce ao mundo”, aqui não), menos presente nesse curta. E o fetiche com a imagem da mulher, que não deve torna-lo nada acolhido junto às críticas feministas. E, após liberto das imagens masculinas que o perseguem, no caso dos jogadores de xadrez (figuras parentais), o homem se encontra sem entraves para vivenciar seu desejo por uma mulher que o segue ao longo de sua jornada. Institut pour la Coordination et la Propagacion des Cinémas Exploratoires. 36 minutos.

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