Filme do Dia: Baara (1978), Souleymane Cissé

 


Baara (Mali, 1978). Direção e Rot. Original: Souleymane Cissé. Fotografia: Étienne Carton de Grammont & Abdoulaye Sidibé. Música: Lamine Konté. Montagem: Andrée Davanture. Com: Balla Moussa Keita, Baba Niare, Bubukar Keita, Oumou Diarra, Ismaila Sarr, Oumou Koné, Fanta Diabaté, Ibrahim Traoré.

Balla Traoré (Keita) é um jovem engenheiro de uma indústria. Ele descobre que o carregador que lhe levara comida do mercado até sua casa, Balla Diarra (Niare) é de uma família que tradicionalmente fora escrava de sua família e consegue libertá-lo da prisão, onde se encontra por não possuir documentos, arranjando-lhe emprego na fábrica. Quando fica sabendo do quão são explorados e serão ainda mais, após o dono da fábrica, Sissoko (Moussa Keita) já contar com a demissão de 200 empregados, Traoré convoca uma reunião com os empregados para alertá-los da situação. Porém informantes já sabem de tudo, enquanto a mulher adúltera de Sissoko, Djénéba (Diarra), morre estrangulada por esse, ao descobrir tudo.

Nada ou quase nada desse filme evoca obras posteriores do realizador, como Yeelen. De fato, o filme é impregnado de um realismo social muito distante da visão interna da mitologia que aquele tenta representar. Porém, se a pretensão é eminentemente de um comentário político, talvez inspirado parcialmente no célebre A Greve, de Eisenstein – lembrando que o realizador foi estudante de cinema na União Soviética, o resultado é prejudicado por certo obscurantismo em detalhes do enredo que, ao contrário do prólogo em que se imagina que seguiremos com a história da mulher despejada, não parece ser um artíficio consciente. Sem falar da forte presença do melodrama, senão na própria encenação ou apresentação dos elementos do enredo, em saídas como a de Traoré apenas perceber a exploração quando se depara com um Diarra completamente exaurido. Ou seja, a conscientização  da necessidade de lutar por seus direitos advém menos dos próprios trabalhadores que de alguém do próprio corpo administrativo da fábrica, saída eivada de um  idealismo ingênuo. Seu esquematismo também surge na forma como a elite é representada, com a mulher do engenheiro representando a própria futilidade em termos de vivenciar uma existência hedonista e vazia, com direito a um padrão de vida ocidental de luxo, dos cosméticos ao amante (numa saída tampouco incomum às esquerdas, como é o caso dos filmes do Cinema Novo). E se Hollywood costuma coincidir ao final a resolução do tema mais amplo, geralmente pano de fundo da história específica (como uma guerra) com o mais localizado (habitualmente uma história de amor) de uma só tacada ao final, aqui se elabora uma dupla catástrofe em sentido inverso, com o assassinato da mulher do dono da fábrica e a rebelião que ocorre naquela simultaneamente. E são as imagens dos dois Balla caminhando, uma das primeiras entrevistas, que ressurgem ao final. Esteticamente o filme não apresenta surpresas como os belos primeiros planos iniciais. 90 minutos.

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