Filme do Dia: Be Natural: A História não Contada da Primeira Cineasta do Mundo (2018), Pamela B. Green

 


Be Natural: A História não Contada da Primeira Cineasta do Mundo (Be Natural: The Untold Story of Alice Guy, EUA, 2018). Direção Pamela B. Green. Rot. Original Pamela B. Green & Joan Simon. Fotografia Boubkar Benzabat. Música Peter G. Adams. Montagem Pamela B. Green.

Em ritmo não menos que supersônico é construída uma espécie de instalação multimídia sobre Alice Guy-Blaché, a cineasta pioneira, a partir de um recorte documental bastante convencional. E nos tornamos conscientes da importância da pesquisa historiográfica para que nomes como o dela, passassem a ser objeto de investigação, cujo próximo passo, levaria a (re)descoberta de seus arquivos e filmes. Assim como dois de seus depoimentos (um de 1957 em áudio, outro, mais extenso aparentemente, de 1964, filmado). E toda a arrojada criação visual de ponta, ao menos de certa perspectiva, que se multiplica como rizomas em direção a locais e referências acadêmicas, artísticas ou simplesmente anônimos, que possivelmente também o levará a ser considerado datado, em termos visuais, em poucos anos, faz com que as viagens pela continental nação estadunidense, assim como pela Europa, notadamente França, pareçam tão simples quanto se acompanhar a entrega de comida por um aplicativo. O que também é um sinal dos tempos em que foi produzido, e do apagamento do esforço e energia depreendidos, em ambos os casos. Tidos como dados, invisibilizados, tal como Guy o fora durante tanto tempo. Destaque para a quantidade de ícones cinematográficos que emerge da montagem inicial. O curioso e inventivo título do documentário vem de uma placa do estúdio Solax, propriedade de Blaché, no qual se lia “Sejam naturais”, mensagem endereçada, evidentemente, aos atores que seriam filmados no estúdio. E ao final, é tocante as tentativas seguidas de Guy de recuperar a memória de seus filmes e as negativas que vai enfrentando seguidas, assim como incorreções, atribuindo a outros obras suas, como é o caso de historiadores famosos, a exemplo de Georges Sadoul – e há uma desconcertante ignorância a respeito dela de um nome como Henri Langlois! O homem que se tornou sinônimo do arquivo de filmes no mundo. E uma tão ou mais chocante declaração de um arquivista sobre as dezenas de filmes dela armazenados na França, que ele retribui com os custos para se operar tal processo. E tudo isso se segue vários revezes pessoais. O incêndio que destruiu boa parte do prédio da Solax, que terá de ser vendido, a sua separação de Herbert Blaché, então envolvido com uma secretária da empresa e notório mulherengo, e seu retorno à França em que inicialmente não encontrará emprego. Depois sequer a confirmação das atividades que realizou para seu ex-patrão, Leon Gaumont.  Baseado no livro de Alisson McMahon, Alice Guy Blaché: Lost Visionary of the Cinema, também consultora do filme, e contando com um número imenso de depoimentos, por vezes agrupados em pequenas janelas que se multiplicam, endossando o paralelo com um enorme quebra-cabeças, tal qual o do universo de pesquisa para reencontrar dados sobre sua vida e os seus filmes. Dentre os depoentes Julie Delpy, Peter Bogdanovich (que nunca havia ouvido falar dela), Geena Davis, Ava DuVernay (que destaca o caráter pioneiro, não exatamente progressista, do elenco exclusivamente negro de A Fool and His Money), Peter Farrelly, Julie Taymor, Agnès Varda, Walter Murch, Kevin Macdonald, Michel Hazanavicious, Marjane Satrapi, Ben Kingsley, Anne Fontaine, Kathleen Turner, Gillian Armstrong, Janeane Garofalo e os acadêmicos Kevin Browlow, Jane Gaines, Anthony Slide, Vanessa Schwartz, Jean-Michel Frodon, dentre outros. Boa parte deles, sobretudo das celebridades, com não mais que uma frase-platitude, daí a rapidez da maior parte de suas entradas. Recupera-se também material que se encontrava inacessível, após um rodeio por várias companhias que trabalham com serviços do tipo, da filha de Guy, que dá um tocante depoimento final sobre seu convívio de seis décadas com uma mulher que ela afirma ter sido profundamente apaixonada pela vida – suas dificuldades financeiras a farão morar inicialmente com uma irmã, depois com a filha. Trechos dos filmes A Fada do Repolho (1896), O Bom Absinto (1899), A Parteira da Classe Média (1902), La Vie du Christ (1905),  Esmeralda (1905), La Femme Collante (1906), La Matelas Épileptique (1906), Os Resultados do Feminismo (1906),  La Hiérarchie dans l’Amour (1906), Le Piano Irrésistible (1907), Une Héroïne de Quatre Ans (1907), La Glu (1907), Le Frotteur (1907), Mixed Pets (1911), O Amor Maior de um Homem (1911), Accross the Mexican Line (1911), Cupid and the Comet (1911), His Mother’s Hymn (1911),   O Cair das Folhas (1912), Two Little Rangers (1912), The High Cost of Living (1912), Americanização (1912),  A Comedy of Errors (1912), A House Divided (1913), The Coming of Sunbeam (1913), The Pit and the Pendulum (1913), A Orfã do Oceano (1916), The Empress (1917), The Great Adventure (1918), Tarnished Reputations (1920).| Wildwood Enteprises/Be Natural Prod. 103 minutos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng

A Thousand Days for Mokhtar