Dicionário Histórico de Cinema Sul-Americano#71: Mataron a Venancio Flores



 MATARAN A VENANCIO FLORES (Uruguai, 1982). Uma rara tentativa de realizar filmes sérios no Uruguai, utilizando realizadores, atores e financiadores locais, Mataron a Venancio Flores, foi uma tentativa audaz mas, em última instância, fracassada, pela Cinemateca Uruguaya, de iniciar um movimento cinematográfico uruguaio. A Cinemateca Uruguaya fiinanciava curtas à época, e houve uma competição de roteiros, que foi ganho por "A Mediodía", de Rolando Esperanza. Juan Carlos Rodríguez, que havia realizado curtas anteriormente, e o diretor teatral Héctor Manuel Vidal desenvolveram o roteiro para um longa. O orçamento de 100 mil dólares do filme foi custeado inteiramente pela Cinemateca. 

O Uruguai estava sob regime militar desde 1973, e o temor da censura pode ter sido a razão porque Mataron foi ambientado no passado, meados de 1800. A duradoura batalha política entre os conservadores "Blancos" e os liberais "Colorados", iniciado em 1839 com uma guerra civil, a "Grande Guerra", alcançou um momento divisor quando o antigo presidente, o "branco" Bernardo Prudencio Berro, e o então presidente "vermelho", Venancio Flores, foram assassinados no mesmo dia, em 1868. Tomando estes fatos históricos como ponto de partida, o filme narra uma história de vingança e uma caminhada pelo campo (algo como um western) no qual dois criminosos são confundidos com assassinos de Venancio Flores e eventualmente mortos, incendiando um confronto criminal entre dois grupos rivais. A reconstrução dos incidentes históricos verídicos, filmados em sépia, são intercalados com sequencias ficcionais em cores. Em tais alusões a uma história violenta, Rodríguez certamente construía uma alegoria da situação política contemporânea no Uruguai. 

Mataron foi filmado em 16 mm, e as filmagens foram completadas em março de 1981. O filme foi lançado na Cinemateca, em agosto de 1982, no aniversário da independência uruguaia. Porém, não foi bem recebido pelos críticos, acostumados a assistirem "filmes artísticos" de alta qualidade europeus, e somente 10 mil pessoas viram o filme. Infelizmente, possuía defeitos ténicos, incluindo uma banda sonora deficiente e um pobre resultado das sequencias em sépia, pelos quais o laboratório argentino foi responsável, motivo pelo qual Rodríguz se desvinculou do filme. A atuação dos profissionais do teatro uruguaios foi considerada adequada, ainda que sua inabilidade de cavalgarem causou problemas nas locações. Incomumente para um filme uruguaio, Mataron efetivamente explorava a paisagem rural. A Cinemateca não recuperou o investimento no filme e abandonou planos para a produção de filmes longos futuramente. O país teria que esperar até meados dos anos 90, quando o financiamento governamental foi finalmente tornado disponível para apoiar a produção de longas, sustentando uma pequena "indústria" de cinema.

Fonte: Rist, Peter H. Historical Dictionary of South American Film. Plymouth: Rowman & Littlefield, 2014, pp. 396-97.

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