Filme do Dia: A Mãe e a Puta (1973), Jean Eustache
A Mãe e a Puta (Le Mamain et la Putain, França, 1973). Direção e Rot. Original: Jean
Eustache. Fotografia: Pierre Lhomme.
Montagem: Denise de Casabianca & Jean Eustache. Figurinos: Catherine. Com: Jean-Pierre Léaud,
Bernadette Lafont, Françoise Lebrun, Isabelle Weingarten, Jacques Renard,
Jean-Noël Picq.
Alexandre
(Léaud), sem emprego ou dinheiro, vive com a dona de boutique Marie (Lafont),
ao mesmo tempo que passa a se interessar pela enfermeira Veronika (Lebrun), com
quem não estabelece um contato sexual de imediato. Alexandre compartilha suas
investidas com Marie, com reações variáveis. Quando Marie viaja, Alexandre
mantém relações com Veronika no apartamento de Marie. Essa, que aparentemente
possui uma relação pragmática com o sexo, torna-se confusa com os sentimentos que estabelece com
Alexandre.
A determinado momento,
o personagem vivido por Jean-Pierre Léaud (senão aberto alter-ego do cineasta,
exemplar próximo de toda uma comunidade geracional e de classe próxima do
realizador) ironiza com A Classe Operária
Vai ao Paraíso (1971), de Elio Petri. Pode-se observar tal ironia, para
além do pouco que é expresso pelo personagem na cena, como uma postura que
reflete uma torsão entre aqueles cineastas que ainda pretendem falar pelos
“outros” de classe e, os mais honestos, como seria o caso do próprio Eustache,
que falam sobre o seu próprio universo. Caminho fértil, mas ao mesmo tempo
repleto das limitações que toda uma produção menos inspirada apontaria
futuramente, relacionada a esterilidade algo masturbatória-narcisista de
representações das tensões do mundo afetivo de seus personagens. Personagens
que parecem um tanto perdidos após as ilusões perdidas pós-Maio de 68. Pontua seu habitual corte seco com elegantes fades,
com bela fotografia em p&b que realça os tons brancos e por interpretações
que por vezes beiram charmosamente o amadorismo, mas que ocasionalmente se
sustentam ao longo de intermináveis planos-sequencias, como o que Veronika
desfia suas queixas próximo do final. As referências, não apenas
cinematográficas (o café Deux Magots,
Sartre, as canções de Edith Piaf, etc.) pipocam. É ume exercício algo enervante
observar por tão longo tempo o rosto semi-alucinado de Léaud desfiar suas
citações idiossincráticas em derivação algo godardiana – dos primeiros filmes
de Godard, sobretudo; algo explicitado numa referência direta a Uma Mulher é uma Mulher (1961), por
exemplo. Finaliza da forma quase mais casual e abrupta possível. Elite
Films/Ciné Qua Non/Les Films du Losange/Simar Films/V.M. Productions para
Planfilm. 217 minutos.
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