Filme do Dia: Sangue para Drácula (1974), Paul Morrisey

 



Sangue para Drácula (Sangue per Dracula, Itália/França/Iuguslávia, 1974). Direção: Paul Morrisey. Rot. Adaptado: Paul Morrisey & Pat Hackett, baseado livremente no romance de Bram Stoker. Fotografia: Luigi Kuveiller. Música: Claudio Gizzi. Montagem: Jed Johnson & Franca Silvi. Dir. de arte: Enrico Job. Cenografia: Gianni Gianvagnoni. Figurinos: Benito Persico. Com: Udo Kier, Joe Dallesandro, Arno Juerging, Maxime MacKendry, Milena Vukotic, Stefania Casini, Dominique Darel, Silvia Dionisio, Vittorio De Sica.

Conde Drácula (Kier) viaja para a Itália com seu assistente Anton (Juerging), atrás de sangue virgem e de uma esposa. A família aristocrática do Marquês (De Sica) e Marquesa (MacKendry) Di Fiore, pretende que uma de suas filhas seja a escolhida por Drácula. Porém, as duas irmãs mais velhas já eram acostumadas a fazer sexo com Mario Balato (Dallesandro), um empregado da residência. Balato descobre tudo e, após deflorar a filha mais jovem, vai de encontro ao Conde para matá-lo.

Essa produção, tão sofrivelmente amadora quanto o sotaque de seus atores, que pretende capitalizar em cima do romance de Stoker e do nome de Warhol (o título internacional foi Andy Warhol's Blood for Dracula), produtor do filme, acaba não indo além de um kitsch que não se resolve entre o dramático e o involuntariamente cômico. Talvez seu maior problema seja justamente atrelar suas atuações amadoras com um arremedo de valores de produção, numa estética banal e despida das estratégias conceituais (não interpretação, planos longos com câmera fixa) que ainda tornavam os filmes do próprio Warhol dignos de interesse. Ou seja, o filme pretende se inserir justamente na estratégia do filme narrativo convencional, onde é um fracasso absoluto, ainda que como paródia, já que uma das maiores virtude dos filmes dirigidos por Warhol, ao menos dos que possuiam um “elenco” e um esboço de narrativa, era justamente prestar um tributo, ainda que sob a forma do rídiculo, aos clichês do cinema clássico americano através de seu estilo peculiar, amador e filmado em 16 mm. Quando se procura essa paródia dentro dos próprios cânones desse cinema que se pretende ridicularizar, todo o efeito do amadorismo se torna um verdadeiro empecilho, ao contrário de tentativas bem mais interessantes efetivadas dentro de um nível de produção mais apurado (como A Dança dos Vampiros, de Polanski, que aparece em uma ponta aqui). A inexpressividade do “símbolo sexual” dos filmes de Morrisey, Dalessandro, consegue ser compatível com a rapidez com que os atores se despem sem qualquer outra motivação que a meramente pornográfica. E não faltam  cenas em que o vômito do vampiro com o sangue das não virgens findam não sendo nem cômicas nem tampouco escatológicas o suficiente, numa alusão a uma permissividade   e emancipação sexual da mulher muito mais enderaçada ao tempo em que o filme foi produzido do que propriamente ao período do início do século em que a história se desenvolve. Ou seja, a ironia é se acompanhar o definhamento de um vampiro numa época – anos 70 – em que não existe mais sangue virgem no mercado. Entre as pálidas motivações dramáticas que o filme faz menção existe a da contraposição entre o rude trabalhador comunista vivido por Dalessandro e o vampiro aristocrata, tipicamente melodramática, porém logo abandonada igualmente por uma trama que não vai além do voyeurismo relacionado a sexo e violência. Morrisey também dirigiu Flesh for Frankenstein (1973). De Sica, morto no mesmo ano,  em sua antepenúltima aparição como ator, já devia se acreditar sem muita credibilidade artística quando associou seu nome a esta produção. C.F.S Kosutnjak/Compagnia Cinematografica Champion/Yanne et Rassam.  103 minutos.

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