Filme do Dia: Kurt & Courtney (1997), Nick Broomfield

 


Kurt & Courtney (Reino Unido, 1997). Direção: Nick Broomfield. Fotografia: Joan Churchill & Alex Vendler. Música: David Bergeaud & Dylan Carlson. Montagem: Mark Atkins & Harley Escudier.

Documentário que investiga a morte do vocalista da banda Nirvana, Kurt Cobain, logo após o ocorrido e o possível envolvimento de sua então companheira, Courtney Love, no que teria sido um assassinato premeditado para aparentar suicídio. Broomfield, como de habitual, vai com uma equipe mínima, consistindo basicamente dele próprio e do cinegrafista, até os locais que aparentam serem interessantes para sua investigação. Embora parta de um tema e procure investigá-lo como igualmente seu companheiro mais famoso do gênero, Michael Moore, Broomfield não chega a criar personagens que simulam ter sido vítimas a partir da própria persona do documentarista, como aquele, nem tampouco performances coletivas reunindo vítimas reais de empresas. Dentre seus entrevistados se encontram Tom Grant, autor da teoria conspiracionista e o próprio pai de Courtney Love, que acredita que a filha pode de fato ter sido autora do assassinato. Por mais que as consistências periciais apontem no oposto, Broomfield insiste de forma que não poderia ter outra explicação que a busca de um efeito sensacionalista, em ceder espaço para que o pouco convincente Grant tente expor porque acredita ter sido um crime a morte de Cobain. Com relação ao pai da cantora, ele sai de uma posição quase sempre atuante, mas permeada por uma certa passividade diante dos depoentes, para uma postura de confrontação. Mesma confrontação que Broomfield tentará repetir inadvertidamente ao final, quando num evento que homenageia a liberdade de expressão, tentará indagar de Courtney Love sobre suas supostas ameaças a biógrafos e jornalistas que tentaram investigar seu passado e acabará sendo interrompido pelos organizadores do evento, provocando um efeito subliminar fortemente irônico – a interrupção de sua fala justamente num evento que louva a liberdade de expressão. É mais que evidente, embora nunca explicitado, que o documentário faz uma leitura bastante demarcada, para não dizer praticamente maniqueísta dos “personagens” com os quais se defronta. De um lado se encontra a postura “desinteressada” da tia de Cobain, que toca para seus alunos uma canção que prega contra as drogas e mostra gravações que o sobrinho realizara na infância, desacreditando da teoria “conspiracionista” sobre a morte do cantor e, de outro, se encontra Courtney Love, sedenta por fama, poder e riqueza e, acima de tudo, por ser aceita no circuito estabelecido do entretenimento. Um dos entrevistados do documentário, El Duce, vocalista de um grupo punk e que declara diante das câmeras que Courtney lhe havia encomendado a morte de Cobain, morre tragicamente durante as filmagens e o documentário explora ambiguamente sua morte como mais um item que pode ser alocado na teoria conspirativa. Do mesmo modo a produção, por si mesma,  se contrapõe a uma indústria da fama auto-congratulatória que, como a própria tia de Cobain já alertara, é completamente marcada pela falsidade e corrupção. Outro diferencial bastante marcado de Moore é que Broomfield faz referência aos próprios bastidores da feitura do documentário, como quando recebe uma ligação que o projeto deverá ser interrompido por ir junto a interesses contrários aos da MTV, sinalizando mais uma vez para uma oposição entre o poderio econômico e a liberdade de expressão. Broomfield também tira partido do desejo do casal que dá título ao filme de serem uma versão atualizada de Sid & Nancy, para intitular o próprio documentário de modo semelhante a versão cinematográfica do casal predecessor.  Strenght Lmtd. para Capitol Films. 95 minutos.

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