Filme do Dia: King Richard: Criando Campeãs (2021), Reinaldo Marcus Green
King Richard: Criando
Campeãs (King Richard, EUA, 2021) Direção Reinaldo Marcus Green. Rot.
Original Zach Baylin. Fotografia Robert Elswit. Música Kris Bowers. Montagem
Pamela Martin. Dir. de arte William Arnold, Wynn Thomas, Christopher Arnold
& Wees Hotman. Cenografia Brana Rosenfeld. Figurinos Shares Davis. Com Will
Smith, Aunjanue Willis, Jon Bernthal, Sanyya Sidney, Demi Singleton, Tony
Goldwyn.
As irmãs Venus (Sidney) e Serena
(Singleton) Williams são incentivadas pelo pai, Richard (Smith), desde muito
jovens, a se dedicarem ao esporte que amam, o tênis. Vivendo na perigosa cidade
de Compton, Califórnia, e com o pai sendo constantemente agredido, por tentar
mantê-las distantes dos tipos perigosos locais. A situação muda quando, cansado
de esmolar atenção, Richard leva as meninas diretamente ao local onde treinam
grandes nomes do esporte, e o treinador de Pete Sampras, Paul Cohen (Goldwyn); embora
a postura firmemente idiossincrática de Richard, evitando que as meninas
participem de competições juniors, as mesmas pelas quais passaram todas as
grandes estrelas do esporte, faz com que dispense os serviços de Cohen e busque
os de Rick Macci (Bernthal), mudando toda a família para a Flórida. Sua esposa,
Oracene (Ellis), embora não tenda a entrar em conflito direto com ele, reclama
de sua postura centralizadora.
Buscando trabalhar na chave da
mimetização que depois terá seu “recibo” nas imagens documentais finais, para
que os espectadores possam conferir os trejeitos do verdadeiro Richard tão bem copiados
por Smith, assim como a velha kombi que levava as filhas aos treinos. Estamos,
na verdade, no pior dos mundos, pois além dessa mimetização, temos entre os
produtores-executivos dessa produção, ninguém menos que Venus e Serena Williams
(algo que também deve ser levado em conta no contemporâneo, mesmo que bem distinto
em termos de gênero, Get Back). Richard é observado como uma espécie de
pai coragem, disposto a engolir seja qual orgulho for, para fazer com que suas
filhas atinjam seus (ou dele) objetivos. É um tanto cansativo se acompanhar a
saga das meninas em uma metragem por demais caudalosa a partir da perspectiva,
sobretudo, de um personagem trabalhado no viés folclórico-paternalista. Pode-se
até argumentar que o Richard histórico seria um tipo ainda mais carregado,
pouco importa, pois aqui o que está em jogo é a dramaturgia. Soma-se que, já
antes mesmo disso, o espectador minimamente informado terá consigo os spoilers
vinculados a questão racial em um esporte até então infenso às mesmas e as
dificuldades econômicas, para se imaginar uma longa tradição de filmes do tipo,
e o quão carregadamente morais são tais filmes – sendo Richard quase uma
encarnação, enquanto personagem, de todas estas. Um ponto positivo, entre
tantos negativos, é o filme terminar apenas no início da deslanchada para duas
das carreiras mais brilhantes do tênis mundial, e findando com uma derrota –
ainda que para a número 1 do mundo, e uma garota de 15 anos sem experiência
profissional anterior. Os outros longas do realizador também possuem aspecto
militante, igualmente racial (Monstros e Homens) ou em relação aos gays
(Good Joe Bell). Não custa muito imaginar que o último apresente um pai
com os mesmos requintes de paternalismo, tecla identificatória de vasto apelo,
do filme aqui discutido. Outra facilidades encontram-se na presença de títulos
musicais de grande apelo popular como são I Shall Be Released (na voz de
Nina Simone), Cruel Summer ou California Dreamin’. E o Sonho
Americano não poderia se encontrar mais exemplificado que sendo realizado,
paradoxalmente, pelo “anti-sistema” Richard; ao se negar contratos de 3 ou 4
milhões de dólares com grandes marcas esportivas em suas primeiras sondagens,
as legendas ao final afirmam que tempos depois foi conseguido um contrato pelo
quadruplo do valor inicial. |Overbrook Ent./Starthrower Ent./Warner
Bros./Westbrook Studios para Warner Bros. 144 minutos.
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