Filme do Dia: The Queen of Spades (1916), Yakov Protazanov

 


The Queen of Spades (Pikovaya Dama, Rússia, 1916). Direção: Yakov Protazanov. Rot. Adaptado: Fyodor Otsep & Yakov Protazanov, a partir do conto homônimo de Alexander Puchkin. Fotografia: Yevgeni Slavinski. Música: Rafal Rozmus. Dir. de arte: Vladimir Ballyuzek. Com: Tamara Duvan, Ivan Mosjoukine, Vera Orlova, Nikolai Panov, Polikarp Pavlov, Yelizateva Shebueva.

Enquanto recepciona um grupo de amigos para um jogo de cartas, Narumov conta uma história sobre sua avó, a Condessa (Duvan). Após ter perdido uma quantia fabulosa no jogo, ela aparentemente descobre uma técnica que consegue ganhar os jogos, a partir de uma sequencia de cartas.  Um dos amigos de Narumov, que nunca jogou, German (Mosjoukine) torna-se obcecado pela história e pretende descobrir o segredo da velha senhora, tentando aproximar-se dessa ao flertar com sua criada, Lizaveta (Orlova). Certa noite adentra a mansão da Condessa e a ameaça com seu revólver, matando-a do coração. O fantasma da Condessa lhe aparece e sopra a dica das cartas a serem jogadas. German joga pela primeira vez na vida e ganha exorbitantes quantias. Porém a segunda dica que lhe é soprada pelo fantasma, a dama de espadas, resulta em perda. German, cada vez mais atormentado, tem sua mente irremediavelmente perturbada.

Com sombras proeminentes e enredo macabro, essa produção parece antecipar o estilo expressionista. Algo similar pode ser dito da caracterização de German, com sua cadência motora diferenciada e menos naturalista que os outros atores em cena, assim como contorno dos olhos fortemente sombreados pela maquiagem.  Embora de início equilibre os tempos entre a história-moldura e a narrativa contada por um dos personagens, com o avançar da mesma, concretiza-se o esperado descolamento e autonomia da narrativa de sua moldura, por uma torção da própria narrativa, em que o ambiente em que se desenvolve a história-moldura deixa de ser o predominante, reversão não muito típica, sobretudo em um período no qual o próprio flashback ainda era pouco comumente utilizado.  Fazendo uso de recursos menos gastos ao início e mais ambíguos em relação ao fantástico – a aparição do fantasma da velha senhora tanto pode acontecer de fato quanto ser um delírio de German – que posteriormente demarcam sua característica delirante através de efeitos de sobreposição evocativos dos utilizados pelo Primeiro Cinema; no caso da aparição da Condessa, é notável como o sobressalto de German é infinitamente mais contido que os arroubos melodramáticos dos filmes de Griffith, já considerado ponderado em relação à média então, assim como do subsequente O Gabinete do Dr. Caligari. Protazanov demonstraria o seu talento dinâmico em incursões as mais diversas posteriormente, indo da ficção científica (Aelita) ao drama ambientado na Guerra Civil (The Fourty First) passando pela farsa (Don Diego i Pelageya). Diversas adaptações do conto de Pushkin foram levadas às telas, uma delas exatamente um século após e baseada sobretudo na adaptação do conto de Pushkin para a ópera por Tchaikovski e direção de Pavel Lungin. 63 minutos.

 

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