Diretoras de Cinema#4: Danièle Huillet

 

HUILLET, Danièlle (1936*). França/Alemanha. Danièle Huillet e seu parceiro, Jean-Marie Straub, juntos foram pioneiros da estilística do Novo Cinema Alemão, que é geralmente atribuída a Rainer Werner Fassbinder, que atuou nos filmes de Huillet/Straub. Danièle Huillet nasceu na França, em 1936. Estudou cinema nas universidade de Nancy e Estrasburgo. Encontrou Jean-Marie Straub em Paris, onde Straub trabalhava como assistente de direção de Le Coup du Berger [O Truque do Pastor], de Jacques Rivette. Huillet e Straub se mudaram para Munique e se casaram, em 1959. Iniciaram sua colaboração em filmes e rapidamente desenvolveram uma reputação por suas produções difíceis, experimentais e desafiadores. Apesar de Huillet e Straub compartilharem créditos, os críticos tipicamente tendem a ignorar  a contribuição de Huillet na parceria até os anos 1980. Como Renate Möhrmann percebe "Huillet foi marcada como um apêndice de Jean-Marie Straub" (p. 75) Huillet e Straub tem pouco a dizer na correção dessa ausência de reconhecimento do lado de Huillet na parceria mas, como Barton Byg sugere "talvez a recepção feminista de Huillet possa começar "cooperando com a preocupação de Huillet pelos filmes primeiro, e posteriormente investigando a gênese da autoria" (p. 210). Huillet observa as questões das mulheres como pertencentes à moldura política esquerdista, mais que algo à parte.

Os filmes de Huillet/Straub são agitprops políticos, modernistas em estilo, geralmente filmados em uma abordagem minimalista e estética em relação à forma. A equipe prefere longos planos estáticos, atuações que são destituídas de emoções e a mais simples das mise-en-scènes. Esteticamente, Huillet e Straub são influenciados por Brecht, Kafka e a teoria crítica da Escola de Frankfurt. Como Maureen Turin observa, os filmes de Huillet/Straub são "uma crítica da intelligentsia (...) como prática artística no qual a experimentação estrutural, e as ideias formadas por essa reconstrução, formam um ângulo oblíquo sobre a possibilidade das vitalidades cinematográficas" (p. 356). Os filmes de Huillet/Straub, portanto, interrogam à plateia, à representação cinematográfica e à representação da própria história. Der Bräutigan, die Komödiantin und der Zuhälter [O Noivo, a Comediante e o Cafetão] (1968), é uma exploração da representação da prostituição. O filme inclui um longo travelling de abertura filmado através da região de Munique onde as prostitutas cotidianamente trabalham. Vagamente adaptado da peça de Ferdinand Bruckner Krankheit der Jugend [Sickness of Youth], O Noivo, a Comediante e o Cafetão é uma reelaboração modernista da historicização do teatro da opressão. A versão de Huillet/Straub combina o assassinato de um cafetão (interpretado por Fassbinder), uma adaptação teatral condensada, a peça de Bruckner, e o longo plano em movimento das prostitutas no bulevar à noite. Em sua auto-referencialidade e insistência que o espectador trabalhará sobre o material histórico, O Noivo, a Comediante e o Cafetão encaixa-se na tradição do Novo Cinema Alemão, fundada sob a ruptura da forma representacional clássica hollywoodiana.

Straub/Huillet interrmpem constantemente práticas cinematográficas padrões, ao insistentemente retrabalharem o espaço narrativo. Como Chantal Akerman, Huillet/Straub desconstroem e reconstroem o prazer visual pelo uso do plano-sequencia, que enfatiza o espaço subjetivo, a repetição, e a falsidade da representação. Klassenverhältnisse [Relações de Classe, 1984), é baseado no romance Amerika, de Franz Kafka. Filmado em preto&branco, a estrutura habitual é dominada por tomadas longas e estáticas. Para enfatizar ainda mais a teatralidade do meio fílmico, Huillet/Straub mantém a câmera na cena, após os atores terem abandonado o quadro. O elenco é composto por uma mistura de não-profissionais e profissionais que, de pé, recitam suas falas, em soliloquios propositalmente cantados, em grande parte da mesma maneira dos "atores" de Andy Warhol. Os comícios e confrontos se dão fora de quadro. Os personagens se dirigem uns aos outros fora do campo composicional. Os problemas representados por Relações de Classe são endêmicos tanto ao teatro político radical de Brecht quanto ao agitprop de Kafka e na teoria de cinema feminista. Como Barton Byg observa, as questões de Relações de Classe são"como imaginar um reino de liberdade para nós. mesmos nesse mundo que a linguagem que temos para descrevé-los é um dos modos de nossa escravização" (p. 213). 

Outras produções de Huillet/Straub seguiram nessa linha, incluindo Chronike der Anna Magdalena Bach [Crônica de Anna Magdalena Bach, 1967), uma narrativa da vida de Bach, através da perspectiva dos "diários" de sua segunda esposa; Nicht Versöhnt oder Es nur Gewalt, wo Gewalt Herrscht [Os Não-Reconciliados, 1965], uma meditação metafísica sobre o Nazismo e o Comunismo do romance de Heinrich Boll, Billiard um Halbzehn [Billiards at Half Past Nine]; e muitos outros assustadores e elípticos filmes anti-narrativos. Os críticos algumas vezes tentam encontrar metáforas fáceis para sequencias dos filmes de Huillet/Straub, mas estes filmes desafiam às abordagens críticas reducionistas. Danièle Huillet e Jean-Marie Straub resistem à categorização estética. 

FILMOGRAFIA SELECIONADA

Co-dirigidos com Straub

Machorka Muff (1962)
Nicht versohnt oder Es hilft nur Gewalt, wo Gewalt herrscht (Os Não Reconciliados) (1965)
Chronik der Anna Magdalena Bach (Crônica de Anna Magdalena Bach) (1967)
Der Brdutigam, Die Kombdianten und der Zuhalter (O Noivo, A Comediante e o Cafetão] (1968)
Les yeux ne veulent pas en tout temps se fermer ou Peutetre qu'un jour Rome se permettra de choisir a son tour: Othon (Othon) (1969)
Einleitung zu Arnold Scbbnbergs Begleitmusik zu einer Lichtspielscene (Introductionto Arnold Scbonberg's "Accompaniment to a Cinematographic Scene") (1972)
Geschichtsunterrich (Lições de História) (1972)
Moses und Aaron (Moisés e Aarão) (1974-75)
Fortini Cani (The Dogs of Sinai] (1976)
Toute Révolution est un Coup de Dés (Every Revolution Is a Throw of the Dice) (1977)
Dalla nube alia resistenza (Da Nuvem à Resistência) (1978-79)
Zu friih, zu spat (Cedo Demais/Tarde Demais) (1980-81)
En Rachachant (1982)
Klassenverhdltniss (Relações de Classe) (1984)
Der Tod des Empedokles (A Morte de Empédocles) (1987)
Schwarze Sünde (1989)

BIBLIOGRAFIA SELECIONADA

Byg, Barton. "Straub/Huillet, Feminist Film Theory and Class Relations." In Gender and German Cinema, Feminist Interventions, Volume 1: Gender and Representation in New German Cinema, edited by Sandra Frieden, RichardW. McCormick, Vibeke R. Petersen, and Laurie Melissa Vogelsang, 209-24. Oxford: Berg, 1993.
Hoberman, J. "Once upon a Time in Amerika: Straub/Muillet/Kafka." Artforum 23 (September 1984): 75-77.
Mohrmann, Renate. "The Second Awakening of Christa Klages." In Gender and German Cinema, Feminist Interventions, Volume 1: Gender and Representation in New German Cinema, edited by Sandra Frieden, Richard W. McCormick, Vibeke R. Petersen, and Laurie Melissa Vogelsang, 73-84. Oxford:Berg, 1993.
Perez, Gilbert. "Modernist Cinema: The History Lessons of Straub and Huillet." Artforum 17 (October 1978): 46-55.
Roud, Richard. Straub. New York: Viking, 1972.
Turim, Maureen. "Jean-Marie Straub and Daniele Huillet: Oblique Angles on Films as Ideological Intervention." In New German Filmmakers from Oberhausen through the 1970s, edited by Klaus Phillips, 335-58. New York: Ungar, 1984.

Texto: Foster, Gwendolyn. Women Film Directors - An International Bio-Critical Dictionary. Westport/Londres: Greenwood, 1995, pp. 193-96. 

N. do E: Huillet faleceu em 2006.

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