Filme do Dia: My Sons' Youth (1952), Masaki Kobayashi

 


My Sons’ Youth (Musuko no Seishun, Japão, 1952). Direção Masaki Kobayashi. Rot. Adaptado Sadao Nakamura, a partir do conto de Fusao Hayashi. Fotografia: Kuratarô Takamura. Música Chuji Kinoshita. Dir. de  arte Kimihiko Nakamura. Com Akira Ishihama, Riûji Kita,  Chishû Ryû, Kuniko Miyake, Yôko Kosono, Motoji Fujiwara, Yoshiko Shima, Susumu Takase.

Casal que se aproxima da meia-idade, Ochi (Kita) e sua esposa (Miyake), observa entre a apreensão e o júbilo, os passos de seu filho mais velho, Haruhiko (Ishihama) no interesse por uma garota (Kosono) de sua idade na escola, que é apresentada aos pais em uma festa. Porém um outro evento desviará o foco da família por inteiro, a detenção do filho mais jovem, Akihiko, envolvido em uma confusão, juntamente com Koichi, filho do sr. Uemura (Ryû), que logo chega a casa dos Ochi, trazendo informações mais detalhadas sobre a detenção de ambos. Ochi vai até à delegacia, e esperam enquanto os filhos são soltos. Esperam apreensivos pelo retorno deles Uemura, a Sra. Ochi

Ligeiramente deselegante no modo demasiado explícito com que seus personagens oferecem suas emoções, algo de bandeja para os espectadores, mesmo quando se tem em mente incursões contemporâneas de um realizador como Bergman, onde tal recurso ganha um charme de viés teatral, essa produção também se aparenta do sueco na forma mesmo que involuntariamente agridoce com o qual apresenta o universo de uma família, cujos pais começam a sentir a aproximação da iniciação do filho mais velho nos rituais do mundo adulto. Há uma busca de leveza na forma como descreve esses rituais, que acabam por envolver todos os membros da família. Nem sempre se escapa de momentos de maior tensão. Alguns chegam a ser contornados, como quando os pais discutem na praia se devem ou não abrir uma correspondência que é destinada ao filho. Outros, não. Como é o caso do momento em que, sob tensão da iminente notícia da detenção do filho, o personagem vivido por Kita empurra a mulher e a chama de idiota. Mesmo coadjuvante, Ryû, que para sempre se encontrará associado a suas colaborações para a carreira final de Ozu, não apenas ganha ascendência sobre Kita nos créditos – e sobre ambos o jovem Ishihama – como rouba a cena do filme de estreia de Kobayashi, no pouco comum formato de média metragem, ao entrar bastante extrovertido e aparentemente nenhum pouco abalado pela prisão do filho e do filho do amigo, mas logo depois vindo a chorar. Visualmente a câmera se aproxima de Ryû, quando o desembaraço social se sucede a uma tensão mais íntima, e ele passa a relatar o episódio no qual ele próprio fora preso e o pai ignorara sua situação, emocionando-se. E, de um modo deveras interessante, faz-se toda uma coreografia que procura ocultar os sentimentos ou os apresenta de forma contida e bastante ritual – assim por trás da mãe, Haruhiko possui sua face estática voltada para o chão e os olhos fechados, em posição de imobilidade e pesar, enquanto escuta a situação de comoção tensa que se espraia pela sala. Quando o irmão chega com o pai e o colega do primeiro, ele se esconde atrás da cerca, e não grita pelo irmão como fazem a mãe dele, ou Uemura em relação ao seu filho. São os mesmos laços de família que tanto interessavam a Ozu, trabalhados de forma mais próxima desse, mesmo apresentando alguns aspectos mais conturbados que naquele, que do modo que Oshima e outros buscará dessacralizar esse universo mítico na década seguinte. Certamente vários pontos “falhos” serão apontadas nessa estreia, e um deles provavelmente seria certa indefinição quanto a que rumo seguir, quem seria o protagonista, etc. Afinal, passeia-se por vários micro-temas (o enamoramento de um dos filhos, a tensão dos pais, a prisão do filho mais novo) que não só não se encadeiam, como tampouco , por vezes, são resultantes de ações prévias anteriormente observadas dos personagens – os pais preocupados na praia sim, mas não o episódio da prisão do filho mais moço. É verdade, mas não deixa de possuir seu charme, da mesma forma que a beleza excêntrica e indefinibilidade da reação de Miyake. A opção pelo formato distante tanto do curta quanto do longa-metragem talvez também seja associado a talvez ser mais evocativo de um conto. E na seara literária de um dos controversos escritores do país, Kobayashi adapta uma obra distante do comentário político – seja à esquerda, seja de um posterior nacionalismo de direita – que Hayashi desenvolverá, uma vez mais afinada com o espírito de Ozu, distante, no entanto, de sua ousadia formal. Shochiku. 45 minutos.

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