Filme do Dia: Os Subversivos (1967), Paolo & Vittorio Taviani
Os Subversivos (I Sovversivi, Itália, 1967). Direção e Rot. Original: Paolo &
Vittorio Taviani. Fotografia: Giovanni Narzisi & Giuseppe Ruzzolini.
Música: Giovanni Fusco. Montagem: Franco Brogi Taviani. Dir. de arte e
Figurinos: Lina Nerli Taviani. Cenografia: Alpíco Prospetri. Com: Lucio Dalla,
Pier Paolo Capponi, Giulio Broge, Fabienne Fabre, Ferruccio De Ceresa, Maria
Cumani Quasimodo, José Torres, Barbara Pilavin, Marija Tocinoski, Giorgio
Arlorio.
Ettore (Brogi) encontra-se disposto a
abandonar a mulher que ama, já que foi designado entre seus companheiros, para
lutar pela revolução na Venezuela. Ludovico (De Ceresa) é um cineasta com
problemas na coluna que interrompe as filmagens de sua produção para assistir a
parte dos funerais de Palmiro Togliatti. Giulia (Tocinoski) vivencia uma
experiência lésbica com a ex-amante de seu marido, Sebastiano (Arlorio).
Ermanno (Dalla), por sua vez, rompe com sua formação em filosofia que, a seu
ver, de nada serve para compreender as situações concretas que vivencia. Seu
amigo próximo é o fotógrafo Muzio (Capponi), que o leva para que a família
conheça.
Nem os Taviani ficaram completamente
alheios a onda de modernidade mais explícita que o cinema vivenciou nos últimos
anos da década. Aqui, o Ermanno do ator bissexto, compositor e cantor Lucio
Dalla rege com as mãos no ar e a trilha sonora de pesados sopros invade o
áudio, tal qual uma versão “cultural” de famosa cena do Acossado (1959), de Godard, em que eram tiros que eram metralhados
contra o sol. E para quem ainda tivesse dúvidas sobre a influência do cineasta
francês, Ermanno é observado em uma sala de cinema assistindo Belmondo ao final
de O Demônio das Onze Horas (1965).
A própria escolha de Pier Paolo Capponi remete ao ator das duas obras-primas de
Godard citadas. Não deixa de ser curioso observar a fotografia de cores fortes
e quentes do último ser observada em uma película em p&b. De todos os
personagens, com parcial exceção de Ermanno, temos acesso a poucas informações,
tornando suas passagens um tanto obscuras. À uni-las o enterro do líder
comunista Palmiro Togliatti, momento histórico para as esquerdas italianas. É
sobre a têmpera desse evento coletivo, mais que o esboço de conflito geracional
de uma família burguesa, quando segue mais detidamente Ermanno, que o filme busca
se sustentar, ao contrário do visionário De Punhos Cerrados (1965), de Marco Bellochio.
Ainda que as imagens próximas ao caixão do líder sejam uma evidente
reconstituição, muitas imagens de arquivo (extraídas de L’Italia con Togliatti, de três anos antes) são utilizadas,
inclusive servindo como pretenso ponto de vista ótico de determinados
personagens. Embora a emoção alcance quase todos os personagens no momento dos
funerais de Togliatti, o espectro de reações é muito mais amplo que unívoco,
incluindo gente correndo atrás de comida ou água, até um momento de destempero
de Ermanno empurrando um senhor com idade de ser seu pai. Seu final, um tanto
insólito, contrapõe o adeus de Ettore a seus companheiros, com a imagem do
caixão de Togliatti descendo a sua tumba. Mesmo tendo-se a impressão que o
filme opera quase como um ajuntamento um tanto disparatado dos frequentes
filmes de episódio italianos da época, trata-se de uma interessante – e
corajosa – incursão dos realizadores por terrenos que habitualmente não
trilhavam ou trilharão, ao mesmo tempo servindo para demonstrar a diversidade
de posturas dos simpatizantes e militantes da esquerda. Ager Cinematografica
para CIDIF. 92 minutos.
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