Filme do Dia: Carica Eroica (1952), Francesco De Robertis

 


Carica Eroica (Itália, 1952). Direção e Rot. Original: Francesco De Robertis. Fotografia: Carlo Bellero. Música: Enzo Masetti. Montagem: Franco Fraticelli. Dir. de arte: Piero Filippone. Com: Franco Fabrizi, Dario Michaellis, Alfredo Rizzo, Tania Weber, Gigi Reder, Domenico Modugno, Nino Milano, Edward Fleming.

Em 1941, batalhões de cavaleiros são enviados para auxiliar a invasão da União Soviética pela Alemanha. Eles atravessam uma vasta região do território soviético até chegarem a uma vila aparentemente deserta. Da torre do campanário são recebidos com balas pela revoltada Kalina (Weber), que logo se tornará em objeto de desejo de vários soldados e da paixão dos capitães Franchi (Fabrizi) e Valli (Michaellis), tendo ela sido poupada da execução para evitar animosidades com a população local. Kalina demonstra sua preferência por Valli, mas pouco tempo depois o batalhão terá que partir para sua inglória tarefa de enfrentar um contingente quatro vezes maior que o deles. Bravamente eles conseguem vencer, mas ao custo de vários homens, incluindo Valli.

É curioso como, ao contrário dos filmes que realizou à época do fascismo, o letreiro inicial aqui menos exalta o realismo das cenas e batalhas que se apressa em afirmar, que se trata de locais e situações ficcionais. Outras artimanhas daquele, no entanto, fixaram-se como comuns, tais como os estrangeiros falarem em suas próprias línguas, não em italiano – logicamente que vários desses, convenientemente os que possuem maior interesse à história, dominam o italiano, em medida maior que nas produções de antes. Filme que certamente ia de encontro àqueles fãs de um cinema envolvendo militarismo e guerra que De Robertis, abertamente simpático ao fascismo nos tempos da guerra civil da década anterior, continua a apresentar aqui, sendo ausente apenas, evidentemente, as saudaões ao Duce, mas com direito ao recorrente Signor Si, de subserviência das patentes militares aos seus superiores. Presente igualmente o tom eulógico com que descreve a última participação de uma cavalaria em um conflito italiano, associando o cavarelhirismo e a grandeza de sentimentos provavelmente com os animais, já que afirma que fazem parte de um tempo para sempre findo – sendo que apenas dez anos separam a ação retratada e o lançamento do filme; há uma evidente nostalgia implícita, na verdade, dos tempos do fascismo. Quando o filme se depara dos pés à cabeça com o aflito corpo de um indivíduo pertencente ao inimigo, logo se adivinha se tratar de uma mulher. Domenico Modugno, posteriormente conhecido como um dos cantores-compositores de maior sucesso da música italiana de todos os tempos, surge em papel menor, inclusive armado de violão e voz a determinado momento, cantando para crianças que não deixam seu superior dormir – aliás em um dos poucos momentos inteligentes do filme, asseverando ao oficial que as canções de ninar, como poderia pensar alguém sobre as fábulas, desconhecem línguas e são conhecidas por crianças de todos os rincões do mundo. Já o oposto, e mais difícil de assistir, é a espécie de conversão da russa revolucionária – vivida pela excessivamente afetada finalandesa Weber, que não seguiria muito adiante em sua carreira  - à “piedade e fraternidade cristãs” dos invasores, na verdade, todos tremendo para tê-la consigo; e o filme, mais uma vez incorrendo em um cacoete, aposta em uma pequena disputa entre seus dois galãs para ficarem com a garota, sendo que a escolha dela já parece determinada ao início da situação.  Tampouco é surpresa, aliás, sobretudo para um filme que parece, ao menos em boa parte de sua metragem, mais interessado nas relações humanas entre pessoas de culturas, nacionalidades – e sexos – diferentes (até certa medida, o que Rossellini também se propunha, mesmo que habitualmente de forma menos leve e complacente que aqui), que as soviéticas rapidamente cedam aos avanços dos invasores italianos. De Robertis parece ter pensado em atingir seu público masculino com as suas maçantes cenas de operação de guerra, que sucedem antes e depois do período na pequena vila, e o feminino com seu arremedo de triângulo amoroso.  Seu final, triunfalmente patético, apresenta um efeito de distorção de imagem e som que soa, no mínimo, estranho numa produção desse calibre, dando-se logo após a breve agonia e morte de seu herói, não sem antes demonstrar sua preocupação com o cavalo Albino, de longe maior motivo de preocupação sua que a russa pelo qual demonstrou fugazmente estar interessado em ter uma relação duradoura. Isso tudo, depois de incontáveis minutos do realizador provavelmente se deliciando com as suas cenas de batalha, explosões, feridos e mortos. Manbretti Film para Lux. 91 minutos.

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