Filme do Dia: O Diabo Riu por Último (1953), John Huston

 





O Diabo Riu por Último (Beat the Devil, EUA/Itália/Reino Unido, 1953). Direção: John Huston. Rot. Adaptado: John Huston & Truman Capote baseado no romance de James Helvick. Fotografia: Oswald Morris. Música: Franco Mannino. Montagem: Ralph Kemplen. Dir. de arte: Wilfred Shingleton. Com: Humphrey Bogart, Jennifer Jones, Gina Lollobrigida, Robert Morley, Peter Lorre, Edward Underdown, Ivor Barnard, Marco Tulli, Bernard Lee, Manuel Serano.

Billy Dannreuther (Bogart) é um escroque a serviço do aventureiro espertalhão Peterson (Morley), que se envolve na Itália com a inglesa Gwendollen (Jones), mulher do aristocrata Harry Chelm (Underdown), enquanto sua esposa, Maria (Lollobrigida) se interessa por Chelm. O grupo fica atiçado com a declaração de Gwendollen de que Harry possui uma mina de urânio em suas terras na África. Paterson decide partir de avião com Billy, mas o carro que levava suas bagagens cai em um precipício. Todos pensam que eles se encontram mortos e Gwendollen revela sua paixão ao marido. Quando retornam partem em um navio, juntamente com os asseclas de Paterson. Durante a viagem é descoberto que Chelm não passa de um modesto dono de pousada com mania de grandeza. Chelm foge durante o percurso, sendo dado como morto. Avisados de que o navio se encontra à deriva,  conseguem chegar de escaler em praia africana de país muçulmano, onde são aprisionados. Após libertos, depois de Billy negociar com o chefe de polícia local Ahmed (Serano), e descobrirem que o navio de fato não naufragou, o grupo é detido para interrogação por um policial da Scotland Yard, Jack Clayton (Lee), e Gwendollen vê a oportunidade para entregar todos os podres de Paterson, que é preso com seus comparsas. Após se despedir do casal Dannreuther, Gwendollen recebe mensagem de que Chelm não apenas se encontra vivo, como descobriu urânio em suas terras.

Essa encantadora e cínica comédia apresenta todos os elementos valorizados por Huston, transpirando sua evidente diversão em contar uma boa história. Da evidente atmosfera de perigo e aventura ao jogo de falseamentos, passando pela ousada atração cruzada entre os casais,   tudo é narrado de maneira límpida, ao contrário de boa parte dos enredos noirs. Fundamental para os propósitos de Huston foi seu afinado elenco, muitos deles habituais (Bogart, em sua última colaboração com Huston, Lorre e o excelente Morley) de suas produções da época e os primorosos diálogos. Como é habitual, a sede de ganância do grupo é frustrada, ainda que aqui se acene para a sorte de alguns dentre eles. Um dos personagens mais surpreendentes é do policial muçulmano vivido brilhantemente pelo ator não profissional Serano. Ao esculachar com a arrogância de Peterson acreditando que ele é um tolo e ignorante por ser árabe, e viver em um país periférico, Huston parece mandar uma mensagem bem humorada à própria produção hollywoodiana contemporânea e seu evidente etnocentrismo. Logo a seguir, no entanto, ele desconstrói tudo isso ao apresentar o mesmo personagem ingenuamente acreditar que Billy será a chave para o seu futuro envolvimento com o seu maior ídolo, Rita Hayworth, e repetir o clichê vigente. O personagem da Sctoland Yard, Jack Clayton, é uma referência chistosa ao produtor executivo e câmera do filme, que se tornaria realizador famoso posteriormente. Rizzoli-Hagging/Romulus Film/Santana Pictures para United Artists. 89 minutos.

 

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