Filme do Dia: Corpo Elétrico (2017), Marcelo Caetano

 


Corpo Elétrico (Brasil, 2017). Direção: Marcelo Caetano. Rot. Original: Marcelo Caetano, Gabriel Domingues & Hilton Lacerda. Fotografia: Andrea Capella. Música: Marcelo Caetano & Ricardo Vincenzo. Montagem: Frederico Benevides. Com: Kelner Macêdo, Lucas Andrade, Welket Bungué, Ana Flávia Cavalcanti, Ronaldo Serruya, Marcia Pantera, Mc Linn da Quebrada, Henrique Zanoni.

Elias (Macêdo) começa a ganhar certo destaque na confecção em que trabalha. Paraibano, 23 anos, mal possui contato com sua família. Sua companhia mais próxima, e também colega de trabalho, é Wellington (Andrade), também gay como ele. Embora mantenha uma relação mais ou menos próxima com o ex-namorado Arhtur (Serruya), de quem é amante ocasional, Elias vivencia sexo episódico com frequência, inclusive com Wellington, e se interesse por um trabalhador da Guiné Bissau, Fernando (Bungué), recém-contratado.

A fluidez das relações contemporâneas parece se destacar em um ambiente em que o universo algo opressivo do trabalho gera uma ânsia por prazer igualmente intenso. Talvez guiado por tal baliza, talvez simplesmente no exercício da desconstrução de expectativas, ou mesmo enquanto pretenso espelhamento do mundo de seu retratado, o filme abdica de qualquer elaboração mais sólida do que seja. Assim, tensões postas, como a do superior de Elias, que o alerta para o contato demasiado próximo com gente que trabalha na confecção ou a do desejo de Elias por Fernando, não ocorre qualquer desdobramento e, inclusive, personagens que aparentemente teriam bem maior destaque na trama, como Fernando, desaparecem após alguma relevância e ressurgem apenas episodicamente. Se a intenção trai um desejo de posicionamento político – apenas o sexo com outros gays é observado e não o que Elias nutre por homens de perfil heterossexual, sendo esse apenas observado enquanto fantasia ou narrado após já ter ocorrido, como é o caso do segurança de um local próximo ao trabalho de Elias – mais aparenta ser uma dificuldade de elaboração dramática com maior precisão e menos dada às facilidades do aleatório. Lacerda, co-roteirista, já havia dirigido seu primeiro longa igualmente, apresentando uma trupe de gays nos tempos da ditadura com seu Tatuagem, de narrativa igualmente dada ao episódico. Destaque para o belo e longo plano-sequencia em que o grupo, à saída do trabalho, conversa animadamente, com a gradual entrada de alguns em cena, em uma coreografia que não deixa de ter sua proximidade com o teatro. Há uma relativamente bem construída etnografia da classe média baixa paulistana, através das posturas, roupas e diálogos, porém nada que consiga ir muito além da mesma e construir uma poética um pouco mais consistente, mesmo que correndo o risco de soar esquemática. Africa Filmes/Desbun Filmes/Plateau Prod. para Vitrine Filmes. 94 minutos.

 

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