Filme do Dia: The Affair (1967), Yoshishige Yoshida

 


The Affair (Jôen, Japão, 1967). Direção: Yoshishige Yoshida. Rot. Original: Tsotomu Tamura & Yoshishige Yoshida. Fotografia: Mitsuji Kanau. Dir. de arte: Chiyoo Umeda. Com: Mariko Okada, Yoshie Minami, Tadahiko Sugano, Shigako Shimegi, Isao Kimura, Etsashi Takahara.

Casada com um rico empresário, Oriko (Okada) não esquece o passado, relembrando sempre a morte trágica da mãe (Minami), atropelada e bêbada, e um dos últimos amantes que ela teve, contra sua vontade, o escultor Mitsuhuru (Kimura), com quem volta a encontrar para falar sobre a mãe. Vivendo um casamento de aparências Oriko, certa noite, faz sexo com um desconhecido (Takahashi), a quem fora admoestar por ter tentado estuprar sua irmã. Em uma das visitas que faz a Mitsuhuru, o marido (Sugano) surge inesperada e intempestivamente. A tensão somente se desfaz quando Oriko relata seu encontro com o homem anônimo. Oriko então assume sua relação com Mitsuhuru. Pouco depois, esse sofre um acidente que possui grandes chances de deixá-lo impotente.

Fotografado em preto&branco com uma delicadeza incomum, como que suas belas composições e enquadramentos semelhantes a pinturas criassem uma atmosfera vaporosa, convidativa a se pensar não apenas em termos estritamente realistas, mas também enquanto representantes da própria protagonista, trafegando constantemente entre o passado e o presente – nesse sentido, vale destacar a seqüência que faz uso de várias jump cuts, da morte da mãe da protagonista e o quanto essa, como outras imagens que assistimos, demonstram ser na verdade construções da próprio Oriko. Para elaborar uma densidade subjetiva diante de atores nem sempre tão afinados ou sofisticados quanto a estrutura narrativa e a intensidade de suas imagens, o filme faz uso constante de uma câmera em plano fechado circulando ao redor da heroína e ajudando a compor seu próprio desnorteio, mesmo que em sua maior parte seja regido por cortes secos. Como outros realizadores da época, tais como Masumura, Yoshida não deixa de ser bastante enfático em referências à sexualidade pelo viés psicanalítico porém, ao contrário daquele, o uso que faz dos elementos cinematográficos parece ter como menor pretensão o choque e a denúncia de aspectos sociais polêmicos do que uma maior aproximação com a representação psicológica de sua protagonista. Mesmo que o resultado final não se aproxime de Bergman, e por vezes algumas soluções evoquem um desejo de modernidade que soa artificial ou datado, tampouco deixa de ser bem mais realizado que tentativas contemporâneas nesse sentido efetivadas pelo cinema brasileiro. Merecem menção cenas como a que Oriko é seduzida pelo anônimo, inicialmente resistindo, e tudo é percebido pela moldura da janela do ambiente no qual se encontram, sem que tenhamos acesso ao som, opção com relação a banda sonora que é enfatizada igualmente em outros momentos. Ou ainda o belo efeito visual conseguido com o mero cruzamento entre dois trens com Oriko na plataforma oposta ao final. Gendai Egasha para Shochiku. 101 minutos.

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