Filme do Dia: Permanência (2014), Leonardo Lacca

 


Permanência (Brasil, 2014). Direção e Rot. Original: Leonardo Lacca. Fotografia: Pedro Sotero. Música: Carlos Montenegro.  Montagem: Eduardo Serrano. Dir. de arte: Juliano Dornelles. Com: Irandhir Santos, Rita Carelli, Silvio Restiffe, Laila Pas.

Ivo (Santos), fotógrafo pernambucano, viaja para São Paulo para sua primeira mostra individual numa galeria da cidade. Ele fica hospedado na casa de uma ex-namorada, Rita (Carelli), hoje casada com um paulistano (Restiffe). Ainda existe uma atração entre ambos, que logo volta a se revelar. Ao mesmo tempo Ivo se relaciona, de forma mais descompromissada, com uma paulistana Laís (Pas) que o ajuda a montar sua exposição e reencontra o pai, de quem é fruto de uma relação extra-conjugal e não pode visitar na própria casa.  Rita e o marido vão passar um final de semana fora e Ivo, sem avisar, parte para um hotel. Ele retorna para se despedir de Rita. Deixa-lhe de presente um filme com fotos dela.

Tocante na forma minimalista, sensível e relativamente reservada com que aborda a “permanência” ao qual faz jus o título, aquela vinculada às pessoas que tiveram uma dimensão afetiva importante em sua vida – ao contrário de outros filmes conterrâneos e praticamente contemporâneos como Boa Sorte, Meu Amoro filme consegue articular um bom casamento entre as boas interpretações e uma preocupação com o visual, algo presente na escolha dos enquadramentos ou no trabalho ocasional de “comentários” visuais a partir de achados simples, como os fios de poste que atravessam o rosto da protagonista no momento da dolorosa despedida. A permanência dos afetos não significa, de forma alguma evidentemente, uma continuidade sine qua non. Ivo, a determinado momento, fala para o pai que não há mais o que dizer à Rita. O que ambos sentiram um pelo outro se encontra vinculado a um outro espaço-tempo, enquanto São Paulo surge como movida por um ritmo que não mais permite o afeto e a subjetividade desinteressadas, tudo já se encontrando de antemão demasiado enquadrado – algo que se reproduz na fala da dona da galeria e também da jovem amante de Ivo. O espaço para a idiossincrasia se perdeu entre demandas do cotidiano. Ivo, aparentemente uma resistência a tudo isso, no fundo sofre quase sempre calado ou engole seu próprio olhar irônico. Mas, por outro lado, fica patente que algo continua presente no silêncio. Dito isso, não se deve escusar certa suspeição sobre alguns lugares-comuns, como o da espontaneidade menos maculada pela lógica de mercado representada pelo nordestino, ainda que, no final de contas, soe crível. E, talvez um ou outro excesso que foge a sua contenção dramática, na qual as imagens e a montagem parecem se sobrepor aos diálogos dramáticos mais convencionais, como a cena em que a amante de Ivo surge nua e tingida pelo café que nem de longe chegam a comprometer o todo.  Cinemascópio Produções.90 minutos.

 

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