Filme do Dia: Tengu Taiji (1934), Noburô Ôfuji
Tengu Taiji (Japão, 1934). Direção:
Noburô Ôfuji.
Por muito que se perca ao não se
encontrar a par de tradições culturais nipônicas nesse curta de animação,
observa-se aqui uma garota que aparentemente ao quebrar, por equívoco, um pote
em um ritual sagrado fica vulnerável ao ataque dos tengus, seres da mitologia
japonesa considerados como fomentadores da guerra, ainda que posteriormente tal
visão tenha se tornado mais flexível, inclusive o considerando como uma
divindade protetora. Os tengus ganham duas representações clássicas e ambas se
encontram presentes nessa animação. A primeira é a das figuras de porte humano
e rosto de pássaro. A segunda, somente entrevista próximo ao final, é a da
representação humana, mas com nariz exageradamente grande. Ôfuji, mais bem humorado que a maior parte da
produção contemporânea nipônica, faz uso de gags tanto sutis (como é o caso do
Tengu cujo bico extrapola o limite do círculo com que os personagens por vezes
são emoldurados em destaque – algo semelhante ao uso da íris por vezes no
cinema de ação ao vivo e também sua emulação pela animação – e outros não tão
sutis como o tengu que se diverte com o medo que provoca na criança assustada
que está com a cara voltada para o chão e é repreendido por um colega que lhe
fecha o bico literalmente como um zíper. E também a heroína que por pouco não
joga a sua própria cabeça no abismo no momento da briga entre sua mãe e ela
contra os tengus. Ou ainda o samurai que em combate com um tengu se transforma
numa mera fachada após ter uma madeira jogada sobre si, numa alusão bastante
próxima a do universo de animação ocidental e também das comédias mudas. Ainda que com o diferencial de que a fachada
semelhante a papelão na qual se transformou não possui vida e é chorada por
seus próximos, sendo incorporado ao vestuário da mãe da heroína tal como um
lenço de cabeça. Ela se transforma, por sua vez, numa exímia samurai. Não menos
curioso, da perspectiva da animação ocidental, é a série de cabeças decapitadas
de tengus que resulta desse conflito, mais se assemelhando a uma linha de
produção em que mãe e filha realizam funções distintas e complementares. A mãe
decapitando e a filha jogando as cabeças no abismo. O desfile de gueixas pela casa, da forma como
são observadas pelo recorte da casa, assemelha-se a imagem da tela de cinema.
Um tengu, no entanto, insatisfeito em ser mero observador, captura uma das
gueixas. Quando a situação parece irremediável, inclusive para a mãe da garota,
nas mãos do tengu-monstro de face humana, a garotinha corta seu longo nariz e
todos terminam na gargalhada. Chiyogami Eiga-sha para Tokyo Cinema. 8 minutos e
15 segundos.
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