Filme do Dia: Boi Neon (2015), Gabriel Mascaro
Boi Neon (Brasil/Holanda/Uruguai,
2015). Direção e Rot. Original: Gabriel Mascaro. Fotografia: Diego Garcia. Música: Nascinegro & Otávio Santos.
Montagem: Fernando Epstein & Eduardo Serrano. Dir. de arte: Maíra Mesquita.
Figurinos: Flora Rebollo. Com: Juliano Cazarré, Maeve Jinkings, Josinaldo
Alves, Vinícius de Oliveira, Alyne Santana, Samya de Lavor, Carlos Pessoa,
Abigail Pereira.
Iremar (Cazarré) é um ajudante de
vaquejadas, que cuida para que os bois entrem no perfil correto na arena.
Galega (Jinkings) uma mãe solteira que cuida de uma menina, Cacá (Santana), que
se recusa à morar com a avó. Galega dirige caminhão, enquanto Iremar é
apaixonado por corte e costura e sonha em um dia ter uma máquina de costura
industrial. Certo dia surge no local improvisado de moradia uma vendedora de
cosméticos, Geyse (De Lavor), grávida e que se sente atraída por Iremar.
Partindo sobretudo do princípio de uma
desconstrução parcial dos clichês associados a tipos populares, como um homem
de serviço bruto, mas ao mesmo tempo de grande sensibilidade para o universo
dos figurinos como Iremar, uma mulher menos sensível e dirigindo caminhões, um
ajudante que não esconde de ninguém sua vaidade extremada para com os cabelos,
fazendo chapinha, uma mulher verdadeiramente grávida efetivando uma cena de
sexo, chega-se, no entanto, a um
resultado final que fica a desejar por sua inocuidade, não sendo
necessariamente uma novidade, inclusive, tal proposta – já melhor explorada em
outras produções. Seguindo uma trilha bem mais orientada a um contato maior com
o público que sua produção anterior, Ventos
de Agosto, o filme igualmente demonstra que suas ficções se encontram
distantes de possuírem a mesma contundência que seus documentários, como é o
exemplo de Doméstica. Se nos
documentários existe uma urgência em se expressar aspectos notórios de uma
sociedade injusta de forma indelével e sem restrições, aqui se chega ao máximo
a ilustração das contraestratégias para se lidar com os sonhos e aspirações –
sobretudo na figura de Iremar – quando se encontra na base da pirâmide social,
sem se apelar para uma saída redentora, mesmo que longe da via da ascensão
social e negação de classe tal como sinalizado por Que Horas Ela Volta. Há uma
apropriação de um linguajar popular, recheado de palavras de baixo calão que
fazem menção quase sempre a sexo , que mesmo razoavelmente bem conseguida pelo
elenco, moderadamente antenado diante dos propósitos perseguidos (a exceção
ocasional da criança Alyne Santana) que possuem explícita função de se
relacionarem como acenos de humor para o público. Com bela fotografia e um
previsível final em aberto, o filme tampouco consegue avançar em nada do que
expõe. Pode-se alegar a opção pelo recorte de um período da vida mais que a
adoção de um arco dramático convencional, mas infelizmente parece ser mais um
produto da falta de ideias consistentes para melhor desenvolver as situações
que envolvem seus personagens. E, evidentemente, deixa em aberto alusões à
personagens temendo a identificação com clichês demarcados. Por exemplo, se
existe indícios de que a Galega possa se prostituir, ecoados pela própria
filha, em nenhum momento o filme o confirma, antes pelo contrário numa fala de
Iremar, demonstrando que mesmo que de fato o seja, os personagens resistem a
tais classificações. Maeve, que vive um
tipo de perfil não tão distinto assim daquele que encarnou em Amor, Plástico e Barulho tem uma cena
bizarra envolvendo intimidade outra vez; se em O Som ao Redor seu personagem era auxiliada na masturbação pelo
movimento e barulho de uma máquina de lavar, aqui surge extraindo os pelos
pubianos de forma improvisada. Ainda mais que em Ventos de Agosto existe uma política consciente de não se enfatizar
somente a nudez feminina aqui, por exemplo, menos presente que a masculina, ao mesmo tempo sabendo flertar
com uma orientação direcionada grandemente para o público ao qual pretende
atingir. Desvia Filmes/Malbicho Cine/Viking Film/Canal Brasil. 101 minutos.
Comentários
Postar um comentário