Filme do Dia: El Último Verano de la Boyita (2009), Julia Solomonoff
El Último Verano de la Boyita (Argentina/Espanha/França, 2009).
Direção: Julia Solomonoff. Rot. Original: Julia Solomonoff & Martín
Salinas. Fotografia: Lucio Bonelli. Música: Sebastián Escofet. Montagem:
Rosario Suárez & Andrés Tambornino. Dir. de arte: Mariela Rípodas.
Figurinos: Natalia Vacs. Com: Guadalupe Alonso, Nicolás Treise, Mirella Pascual,
Gabo Correa, María Clara Merendino, Guillermo Pfenning, Arnoldo Treise, Claudio
Quinteros.
Anos 1970. Jorgelina (Alonso) sente-se ressabiada
com a distância de sua irmã mais velha, Luciana (Merendino) que ao se tornar
moça não mais compartilha das brincadeiras dela. Filha de pais separados,
Jorgelina irá passar uma temporada com seu pai (Correa) no campo. Lá retoma o
contato com o amigo Mario(Treise), que quase nunca a acompanha nas
brincadeiras, sobretudo aquáticas. Mario irá participar, dentro em breve, de uma
corrida de cavalos, ao qual treina com regularidade, além do trabalho pesado de
ajudar os pais no campo. Intrigada com o sangramento algo constante de Mario,
Jorgelina, que começa a investigar sobre o sexo em livros, indaga dele do que
se trata. Insatisfeita com a resposta, comenta com seu pai o episódio, que
decide examinar Mario.
Solomonoff consegue, de uma perspectiva próxima
da criança, contar uma narrativa cuja maior virtude talvez seja a de uma
singeleza que quase nunca derrapa no óbvio (“eu gosto de você, como você é”
afirma Jorgelina ao companheiro de brincadeiras sendo exceção), assim como de
um retrato de uma comunhão de espíritos que talvez se vá tecendo por conta da
garota igualmente perceber-se enquanto à margem do círculo da irmã mais velha,
não apenas por diferenças de idade, como igualmente por uma sensibilidade mais
identificada com a dos garotos e, portanto, bastante sensível a esse aspecto
como quando, por exemplo, ralha com uma amiga da mãe que a chama apenas pelo
diminutivo que finda em ser masculino, e do qual já fora vítima de chacota da
irmã. O filme também provoca deslocamentos do que parecia ser o foco do qual se
aproximava, incluindo o próprio título. Inicialmente, na sensação de deslocada
de Jorgelina em sua própria casa. Depois, no que aparenta ser um incômodo entre
ela e Mario que pode-se imaginar vinculado à classe social e a dimensão do
trabalho e, por fim, as marcas de uma menstruação apontam para o verdadeiro
foco de tensão que o filme apresenta, sobre um viés bastante distinto, diga-se
de passagem, de outra produção argentina de temática similar, XXY (2007), de Lucía Puenzo. Os interiores e o
deslocamento do mundo urbano, assim como o quase apagamento completo da
temporalidade como eixo de compreensão do que se passa (com exceção de um ou
outro adereço de cena e uma referência midiática ao “presidente Ronald Reagan”)
podem sugerir paralelos com sua conterrânea Lucrecia Martel. Solomonoff também
se sai bem na expressão de uma amizade
de conteúdo erótico como é bastante comum nesse momento de primeiras
descobertas relativas à própria sexualidade de forma um tanto polimorfa. Seus atores mirins conseguem dar conta de
seus papeis e não se interessaram em seguir carreira artística. Travessia
Prod./Domenica Films/El Deseo/Epicentre Films/Lucky Monkey Pictures. 93
minutos.
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