Filme do Dia: O Segredo da Casa Vermelha (1947), Delmer Daves

O Segredo da Casa Vermelha - Limão Mecânico
O Segredo da Casa Vermelha (The Red House, EUA, 1947). Direção: Delmer Daves. Rot. Adaptado: Delmer Daves & Albert Maltz, a partir do romance de George Agnew Chamberlain. Fotografia: Bert Glennon. Música: Miklós Rózsa. Montagem: Merrill G. White. Dir. de arte: McClure Capps. Figurinos: Frank Beetson Jr. Com: Edward G. Robinson, Lon McCallister, Allene Roberts,  Judith Anderson, Rory Calhoun, Julie London, Ona Munson, Harry Shannon.
Meg (Roberts) é um jovem que cursa o ensino médio e cuja vida se encontra restrita à casa, uma fazenda onde vive sozinha com os proprietários, praticamente seus “pais adotivos”, Pete e Ellen Morgan (Robinson e Anderson). A situação muda de figura quando ela pressiona o pai para contratar o jovem colega Nath (McCallister), namorado da fútil e atirada Tibby (London), por quem se encontra interessado. O pai, mesmo com reservas, contrata-o, dada as dificuldades de lida com o trabalho cansativo, sobretudo por não ter uma perna. O pai sempre falara para Meg evitar a floresta e um tabu, a chamada casa vermelha, que nela se encontra. É o que os jovens acabam por fazer, trazendo não apenas lembranças amargas para Pete como novas complicações. Nath é demitido por Pete, que entra em atrito com o homem que o último contratou para vigiar sua propriedade, Teller (Calhoun).
Se não apenas os primeiros diálogos, mas a primeira cena de algum efeito dramático que o filme traz já sustenta a hipótese da sexualidade  a permear de forma não tão recôndita como habitual até então, toda a trama, antecipando os preceitos morais da década seguinte – uma jovem escuta constrangida no ônibus escolar que a leva de volta ao lar uma garota mais velha sugerindo a seu namorado que não vá vestido com sua roupa de banho, mas que a troque somente no momento em que se encontrarem no recanto onde irão no final de semana, já que estarão a sós. Posteriormente, o que se percebia como constrangimento se explicitará como um desejo semelhante pelo mesmo rapaz.  Existem fraquezas inerentes e para além de sua produção que devem ser ressaltadas. Como é o caso do pífio elenco – a exceção da dupla veterana Robinson e Anderson - que faz movimentos bruscos, inclusive  com o olhar para expressar, de forma canhestra, mudanças de humor ou reações a algo que discordam. Se o padrão de interpretação de então soa afetado aos olhos de hoje, várias décadas após, aqui é algo bem pior, pois é uma afetação pífia, incapaz de trazer verossimilhança em relação aos dramas vividos por seus personagens. A qualidade da imagem parece digna das cópias de filmes que se tornaram domínio público, o que talvez não seja improvável.  Seja com expressão facial de bonomia ou de extrema malevolência, como aqui, Robinson parece ter encarnado como ninguém o ressentimento masculino de meia-idade em relação à sexualidade feminina jovem (haja visto igualmente suas participações nos filmes gêmeos de Lang, Um Retrato de Mulher e Almas Perversas). Aqui, no entanto, tal atração tem uma dose polêmica a mais, pois se trata de sua filha adotiva e filha da mulher que amou obsessivamente durante a vida, Jenny, nome pelo qual progressivamente teima em chamar a filha. Mesmo as referências da obsessão de Pete se tornando óbvias e trabalhadas, de um modo geral, de forma pouco velada para o que era habitual então e ocorrendo um momento em que a filha nada no lago e o pai afirma o quão bom seria que tudo voltasse a ser como antes, com apenas eles dividindo o seu afeto (lembrada por Scorsese em seu documentário Uma Viagem com Martin Scorsese pelo Cinema Americano – Parte 1), é a figura de “mãe”, que somente muito tempo se vem a descobrir se tratar da irmã de Pete, vivida pela habitualmente sombria Judith Anderson (evocada sobretudo como a governante lésbica que preza demasiado pela memória de Rebecca) que o expressa de fato quando indaga de Meg se Pete a tocou. A trama secundária, que apresenta desdobramentos da atração entre Tibby e Teller soa desnecessária, já que não afeta mais o ponto nevrálgico desse drama tenso, que evoca timidamente a bem mais complexa parábola efetuada por Charles Laughton na década seguinte (O Mensageiro do Diabo). O fato da casa ser vermelha bem poderia acenar para uma referência subliminar ao comunismo, cujo pretenso combate na indústria cinematográfica se iniciaria, de forma sistemática, no ano dessa produção. Sol Lesser Prod. para United Artists. 100 minutos.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng

A Thousand Days for Mokhtar