Filme do Dia: Les Amours de Le Reine Élisabeth (1912), Henri Desfontaines & Louis Mercanton
Les Amours de Le
Reine Élisabeth (França, 1912). Direção: Henri Desfontaines & Louis
Mercanton. Rot. Adaptado: baseado na peça de Émile Moreau. Figurinos: Paul
Poiret. Com: Sarah Bernhardt, Lou Tellegen, Max Maxudian, Mademoiselle Romain,
Georges Charmeroy, Albert Decouer, Marie-Louise Derval, Guy Favières.
A Rainha
Elizabeth I (Bernhardt) vive uma relação amorosa com o Duque de Essex
(Tellegen). Essex, ao mesmo tempo, encontra-se enamorado da Condessa de
Nottingham (Romain). O Duque de Nottingham (Charmeroy), seu marido, flagra-os juntos e cria uma acusação anônima de traição
contra Essex, que a Rainha não leva a sério até, ela própria, flagrar Essex com
a Condessa. Enciumada, a Rainha Elizabeth ordena a detenção e a posterior pena
capital contra Essex. Elizabeth visita o corpo de Essex cheia de remorsos e
recebe o desprezo da Condessa. Nunca mais feliz, morre algum tempo depois.
Essa
produção é curiosa sobretudo por se utilizar de recursos não distantes de
adaptações anteriores de peças e livros, como as britânicas, porém as tornando
bem mais próximas de um núcleo narrativo relativamente centrado em relação
àquelas. Por mais que episódios que fogem a relação entre Elizabeth e Essex
sejam apresentados, é essa que predomina e motiva o interesse no drama, ao
contrário das tentativas de súmula das adaptações anteriores (A Tempestade, The Winter’s Tale, dentre muitos outros), como é o caso da
apresentação de Shakespeare à Rainha. Com cenários bem mais realistas que seus
antecessores, o filme faz uso da profundidade de campo, as vezes somente de
forma ornamental e atmosférica, percebido no uso dos extras que representam
cenas vividas na corte, mas por vezes como maximização dramática de
determinadas situações. É nesse quesito que se enquadra, por exemplo, a saída
de uma atormentada Condessa, em um corredor e seu flagra pelo marido traído que
a observava mais próximo da câmera. Ironicamente, tal profundidade, assim como
a proximidade inverossímil do marido da esposa, parecem mais subjugados à
lógica teatral que propriamente cinematográfica, como as apresentadas nos
filmes de Louis Feuillade contemporâneos. Não faltam momentos nos quais nada de
especificamente narrativo parece acontecer e o quadro repleto de atores
gesticulando surge com um parentesco não muito distante dos planos de maior
apelo espetacular e desvinculado de interesses narrativos dos filmes de Méliès.
Ou ainda as cartelas que já antecipam, por vezes, com grande antecedência, a
ação que ainda ocorrerá. Presença de muitos planos longos, alguns deles
chegando a durar mais de três minutos. Como sinal de distinção com relação a
produção pioneira do cinema, como é o caso de The Execution of Mary, Queen of Scotland (1894), o filme corta para
uma cartela no momento em que Essex será decapitado, nessa produção associada
ao film d’art francês, com a rara
presença no cinema da grande dama dos palcos franceses de então, Bernhardt.
Talvez se torne interessante observar as liberdades que o filme teve com
relação às suas personagens históricas, assim como o próprio envolvimento entre
Elizabeth e Essex em comparação com Meu
Reino por um Amor (1939) ou Elizabeth
(1998). Será que o fato de ter sido produzido por Zukor para o célebre estúdio
norte-americano na França e que seria
rebatizado como Paramount, pode ter influenciado a uma proximidade maior com o
filme narrativo convencional que a média do film
d’art francês do período? É tido como o primeiro filme a ter uma trilha
especificamente produzida para si. Famous Players Film Co. 50 minutos.
Comentários
Postar um comentário