Filme do Dia: Angústia de uma Alma (1950), Antony Darnborough & Terence Fisher


Angústia de uma Alma (So Long at the Fair, Reino Unido, 1950). Direção: Antony Darnborough & Terence Fisher. Rot. Original: Hugh Mills & Anthony Thorne. Fotografia: Reginald H. Wyer. Música: Benjamin Frankel. Montagem: Gordon Hales. Dir. de arte: Cedric Dawe & George Provis. Figurinos: Elizabeth Haffenden. Com: Jean Simmons, Dirk Bogarde, David Tomlinson, Marcel Poncin, Cathleen Nesbitt, Honor Blackman, Betty Warren, Zena Marshall.
A britânica Vicky Barton (Simmons) viaja com o irmão Johnny (Thomlinson) para uma Paris efervescente com a iminente inauguração da Exposição Universal de 1900. Logo, no entanto, ela não mais encontra o irmão e tampouco qualquer pessoa no hotel que o alegue ter visto, incluindo a dona do estabelecimento, Madame Hevé (Nesbitt). Porém, o galanteador George Hathaway (Bogarde), interessado nela,  após Vicky já se encontrar quase sem esperanças, havia trocado palavras com seu irmão e se engaja na luta para descobrirem a verdade.
O fato de Fisher ter praticamente revivido o gênero moribundo do horror  e os monstros da Universal de duas décadas antes, alguns anos após,  assim como somado a esses todo o repertório da literatura gótica britânica, teve seu preço a pagar quando se observa esse filme, quase tão sofisticado, em termos de produção e elaboração atmosférica, quanto suas melhores contrapartes do outro lado do Atlântico. Se não se leva mais que alguns minutos na ambiguidade entre estarmos assistindo ao delírio da protagonista ou um complô armado contra ela, que alimentaria dúvidas implacáveis em filmes não exatamente concludentes como o anterior Laura (1944), de Otto Preminger ou podendo se antecipar ao terror moderno de O Bebê de Rosemary (1968), de Polanski, o filme traz consigo fluentes e elaborados movimentos de câmera e a presença incontornável da bela e talentosa Jean Simmons, ambientados em uma época paradigmática do fetiche moderno - A Exposição Internacional de Paris, que havia plantado sua monumental Torre Eiffel em um cenário até então pastoral da metrópole. E, como se não bastasse tudo isso, a própria Exposição, de quem provavelmente se tiraria partido visual com maior intensidade, em uma produção hollywoodiana - as cenas representando espaços extra-muros são raras -  ainda comparece como causa fundamental para o súbito desaparecimento do irmão de Vicky, desconstruindo qualquer possibilidade do sobrenatural (que bem poderia servir como primeira hipótese) ou realismo policial (que serviria como uma luva quando essa primeira se esvai). Ao ser estruturado desse modo,  seu desfecho abdica do trivial maniqueísmo que jogava sempre com os personagens disponíveis, e se aproxima de alguns dos melhores contos da literatura gótica em sua excentricidade.  Tudo embalado, é bem verdade, em um modelo talvez não tão vivaz quanto os seus melhores contrapartes norte-americanos, incluindo o insípido bom moço que Bogarde viveu às pencas antes de se revoltar contra sua persona cinematográfica. Mas, contando, por outro lado, com a beleza e o talento de Simmons, aqui limitado pelas próprias restrições de um filme em que o enredo é o protagonista, e da magnífica dona de hotel vivida por Nisbett. Gainsborough Pictures para GFD. 83 minutos.

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