Filme do Dia: Também os Anões Começaram Pequenos (1970), Werner Herzog
Também os Anões
Começaram Pequenos (Auch Zwerge haben
Klein Augefangen, Alemanha, 1970). Direção e Rot. Original: Werner Herzog.
Fotografia: Thomas Mauch. Música: Florian Fricke. Com: Helmut Döring, Gerd
Gickel, Paul Glauer, Erna Gschwendtner, Gisela Hertwig, Gerhard Maerz, Hertel
Minkner, Gertrud Piccini, Marianne Saar.
Grupo de
anões numa instituiçao correcional se rebela contra a mesma, na ausência de
seus funcionários. Juntos dilapidam boa parte do patrimônio material, torturam
e matam animais, incendeiam árvores e reagem contra o único anão que representa
os interesses da instituição.
Esse talvez
seja o mais bizarro dos filmes de um cineasta que teve como característica
marcante – principalmente nos anos 1970 – uma busca incessante por tipos e
imagens que se afastavam de um olhar convencional sobre o mundo. Nesse sentido,
sua ênfase na crueldade dos que foram igualmente vítimas da crueldade
institucional chega aos limites de ter sido questionada, em termos éticos
(assim como seu impressionante documentário O Mundo do Silêncio e da Escuridão, do mesmo período). Aqui, os
anões massacram os que são inferiores ao
padrão médio do grupo, seja o diminuto Hombre ou o cego Chicklets, reproduzindo
a lógica perversa e excludente da própria sociedade em relação a eles. A
catarse anárquica e destrutiva é meramente observada sem qualquer julgamento
moral positivo ou negativo. Herzog ainda faz uso de uma trilha sonora que
inclui um estranho canto lírico, melodias africanas e uma alteração na
sonorização das vozes dos atores para acentuar o estranhamento. No plano da
diegese, tal estranhamento fica por conta dos perversos jogos efetivados entre
os próprios anões, pelo automóvel que circula infinitamente sem motorista, pelo
macaco que faz às veze de Cristo, pela coleção de insetos com figurinos de
casamento, por um anão preso a uma cadeira que não para de rir, como pelo
paralelo que o cineasta traça entre a crueldade humana e a animal. No último
caso, destaca-se a imagem de uma galinha deficiente sendo vítima da
intolerância de outra. Ao iniciar com planos de Hombre sendo fotografado por
autoridades que indagam o motivo da revolta e não mais retornar ao período que
sucede aos eventos descritos pelo filme, fica patente a recusa do mesmo de
compartilhar com o restabelecimento da ordem, como é prática comum na maior
parte dos filmes. Aqui, pelo contrário, finaliza-se com o riso perverso de
Hombre diante de um camelo que possui patas defeituosas e não consegue se pôr
de pé. Herzog se afasta de qualquer
sentimentalismo humanista nesse seu retrato de uma situação de revolta. Nenhum
não anão aparece ao longo do filme – o casal que busca informações na estrada
também é anão e da autoridade que indaga Hombre no início só ouvimos a voz.
Werner Herzog Filmproduktion. 96 minutos.
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