Filme do Dia: Paranoid Park (2007), Gus Van Sant
Paranoid Park
(França/EUA, 2007). Direção: Gus Van Sant. Rot. Adaptado: Gus Van Sant, baseado
no romance de Blake Nelson. Fotografia: Christopher Doyle & Rain Li.
Montagem: Gus Van Sant. Dir. de arte: John Pearson Denning. Cenografia: Sean
Fong. Figurinos: Chapin Simpson. Com: Gabe Nevins, Daniel Liu, Jake Miller,
Taylor Momsen, Lauren McKinney, Scott Patrick Green, John Michael Burrowes,
Grace Carter, Jay “Smay” Williamson.
Em
Portland, o adolescente Alex (Nevins) se vê imerso interiormente na morte
acidental de um segurança perto de uma pista de skate conhecida como Paranoid
Park. O detetive Richard Lu (Liu) vai até a escola interrogar os garotos
skatistas. Oprimido por ter que manter o fato em segredo, Alex ainda tem que
lidar ao mesmo tempo com a sepração dos pais e o assédio da namorada Jennifer
(Momsen).
Van Sant
busca expressar no ritmo do filme o sentimento de atabalhoamento e quase
paralisia de seu jovem perplexo, algo que aliás está longe de ser estranho ao
cinema autoral (sendo Antonioni um dos primeiros a efetivar primorosamente tal
relação), não faltando sequer uma vinculação estreita da desordem com que o
protagonista esboça seu relato e a própria ordem não linear da montagem do
filme. Fica mais do que evidente ao final que não interessa ao filme a trilha
da investigação policial, mesmo que ela pese como a espada de Dámocles não
apenas na consciência atormentada do jovem como no próprio enredo do filme,
apenas para ser efetivamente ignorada em um momento posterior, demonstrando o
explícito desprezo pela curva dramática convencional. Tampouco há uso de trilha
incidental, sendo os momentos em que o narrador se faz mais evidente os de
deambulação de Alex pelos corredores da escola ou dirigindo o carro da mãe ao
som habitualmente de canções pop. É a dimensão eminentemente subjetiva de seu
personagem, mesmo que observada a partir de uma chave emocionalmente
distanciada, o que efetivamente importa – o que talvez motive cenas bizarras
como o segurança ainda rastejar com metade de seu corpo após ter sido partido
ao meio. Nevins funciona melhor quando permanece contido, pois apesar de toda a
atmosfera do filme refletir sua subjetividade, talvez o que exista de melhor
seja justamente o choque dessa, que passa por um momento de brusca alteração
dos sentidos motivada pelo assassinato involuntário, com o realismo objetivo,
banal e repleto de exigências e opções da vida cotidiana; quando foge desse
registro, soa inconvincente, como sua demonstração excessiva de choque ao ver a
notícia da morte televisada. Como em outros filmes contemporâneos, a exemplo de
A Mulher sem Cabeça, o ato de se
defrontar com o fato de ter matado alguém e suas reações sobre o indíviduo é o
que efetivamente interessa ao filme. As imagens semi-documentais de skatistas possuem uma dinâmica no corte
ausente do corpo narrativo propriamente
dito do filme, parecendo igualmente apontar para a postura reflexiva que esse
pretende demonstrar com relação à produção contemporânea. Curiosamente, se
alguns acordes anteriores haviam sugerido uma aproximação com uma trilha sonora
de Nino Rota, pouco depois explode o tema de Amarcord para ilustrar um momento aparentemente anódino do
filme. MK2 Prod./Meno Films/CNC para IFC
Films. 85 minutos.
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