Filme do Dia: Vice (2018), Adam McKay
Vice (EUA, 2018).
Direção e Rot. Original: Adam McKay. Fotografia: Greig Fraser. Música: Nicholas
Britell. Montagem: Hank Corwin. Dir. de arte: Patrice Vermette & Brad
Ritter. Cenografia: Jan Pascale. Figurinos: Susan Matheson. Com: Christian
Bale, Amy Adams, Steve Carrell, Sam Rockwell, Alisson Pill, Eddie Marsan,
Justin Kirk, LisaGay Hamilton.
A ascensão
de Dick Cheney (Bale), de anônimo funcionário de companhia elétrica embriagado
a um dos homens mais influentes do mundo, tomando as decisões importantes e
efetuando o jogo do poder em termos de relações internacionais durante o
governo de Bush filho (Rockwell), tendo sempre como sua fiel escudeira, por
vezes assumindo o protagonismo, sua esposa Lynne (Adams).
Seu estilo,
herda as intervenções narrativas do cinema moderno, inclusive com o viés
paródico daquelas, devidamente filtradas por propostas que as apropriavam para
um cinema de maior diálogo com o público, algo que já podia ser percebido
alguns anos depois do surgimento desse (caso de Aventuras de Tom Jones). Porém a ironia da voz over aqui, assim
como as inserções de imagens sobre temas que são motivo de discussão pelo
narrador ou seus personagens, deve ser contida o suficiente para um tema que
envolve personalidades políticas do mundo concreto contemporâneo norte-americano,
maior parte delas ainda vivas quando de sua produção. Algo que se choca com as
interpretações demasiado caricatas da tradição naturalista norte-americana e
tão ao gosto do público e que literalmente se corporificam nos próprios atores,
no caso aqui sobretudo Bale, enfrentando um regime de engorda para e pesada
maquiagem, a tarefa de vivenciar seu personagem e os efeitos do tempo – e do
poder - nesse; particularmente, em
relação a esse último quesito, aparentemente McKay inseriu imagens dos próprios
procedimentos médicos vinculados a uma cirurgia que efetuou no coração durante
a produção desse filme como sendo do personagem. Por vezes se extrapola os
motivos dos temas que estão sendo discutidos, para imagens que não referenciam
diretamente e sim por associação de temas bastante desvinculados do contexto
espacial em que se dão tais ações, tal como em Eisenstein, sem o mesmo rigor
formal certamente, e igualmente já vulgarizados nesse seu viés por filmes de
maior talento e/ou radicalidade (Resnais em seu Meu Tio da América, Furtado com Ilha das Flores). O momento de maior audácia, se dá quando falsos
créditos finais interrompem a narrativa em pouco mais de um terço de sua
extensão, forjando um falso final feliz antecipado. Ou ainda quando o narrador interno sofre um
acidente, cômodo em certo sentido, para sua disposição no jogo narrativo. Sem
muita descrição tampouco, há uma forte ênfase na figura da mulher de Cheney
como uma encarnação Shakespeare-freudiana que, inclusive, faz o discurso
fundador para sua escala de ambições de um simples empregado de companhia
elétrica a um dos homens mais influentes do governo do país mais influente do
globo. Muito apropriadamente, em termos das demandas politicamente corretas,
dois dos assessores mais próximos a demonstrarem visível insatisfação com o
rumo que as coisas seguem e a invasão ao Iraque são os negros Colin Powell e
Condolezza Rice. Logo após Powell emitir seu discurso na ONU, afirmando que o
Iraque era possuidor de um arsenal de armas secretas e se encontrava envolvido
com os ataques do 11/09, a voz over do narrador irá afirmar que posteriormente
este seria o momento mais doloroso de sua vida. Como é comum em produções
assim, e isso não é propriamente algo positivo, o personagem retratado acumula
toda sorte de vinculações importantes que o rodeiam. No caso, Cheney se
encontra direta ou indiretamente associado com praticamente tudo que a Nova
Direita americana defendeu à exceção da homofobia, por ter uma filha lésbica,
incluindo o crescentemente conservadorismo midiático representado por redes
como a Fox News. Há um festival de imagens de arquivo as mais diversas, que vão
desde os tempos de Nixon até a Obama e, muitas vezes coladas a estas,
reconstituições de outras, como a declaração de guerra ao Iraque pela televisão
efetuada por Bush. Seu título originalmente certamente se refere ao duplo
sentido da palavra em inglês, significando igualmente vício. 132 minutos.
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