Filme do Dia: Se...(1968), Lindsay Anderson


Se... (1968), com Malcolm McDowell, filme completo em HD - ative ...

Se... (If..., Reino Unido, 1968). Direção: Lindsay Anderson. Rot. Original: David Sherwin & John Howlett sob o roteiro The Crusaders. Fotografia: Miroslav Ondrícek. Música: Mark Wilkinson. Montagem: David Gladwell. Dir. de arte: Jocelyn Herbert & Brian Eatwell. Figurinos: Shura Cohen. Com: Malcolm Mcdowell, David Wood, Richard Warwick, Christine Noonan, Rupert Webster, Robert Swann, Hugh Thomas, Michael Cadman.
Em um colégio interno que comemora seu meio milênio de existência, mas que passa por dificuldades para manter seu prestígio, um grupo de jovens, liderados por Mick Travis (Macdowell) acaba chamando a atenção de um grupo de deões, particularmente Denson (Thomas). Travis foge com um amigo Johnny (Wood) após furtar uma moto para um passeio, onde conhecem uma garçonete (Noona). Após serem castigados com uma humilhação física, a dupla, juntamente com Wallace (Warwick), atira com balas de verdade em um treinamento militar escolar, ferindo um dos oficiais. Disposto a dar uma segunda chance ao grupo, o reitor não toma uma atitude mais enérgica. No dia da comemoração do aniversário da escola, na presença de autoridades eclesiais e militares, o grupo passa a atirar em todos na saída da igreja.
Há uma evidente olhar metafórico, mas que propriamente realista, nessa reflexão bastante permeada pelo tom anti-estabelishmennt que o filme contém, que se casa à perfeição ao momento contemporâneo – esse é justamente o ano da explosão das rebeliões estudantis em todo o mundo – que porém se escusa de fazer uso de imagens por demais convencionadas como opostas ao realismo convencional, seja o surrealismo de A Idade do Ouro (1930) ou mesmo uma certa continuidade dirigida pelo próprio Anderson com O Lucky Man (1973), o que talvez seja uma decisão mais que acertada, e possivelmente seu maior charme. É justamente quando procura se afastar desse registro, como na cena em que Mick e a garçonete travam uma “batalha” antes do amor que o filme menos convence – aliás a cooptação da anônima e aborrecida garota é um evidente sinal de que todos que levam sua vidinha aborrecida em empregos tediosos estariam potencialmente à espera de alguém que os motivasse para alguma mudança. É evidente que o filme flerta e se coloca de lado dos jovens, em um tom anarquista que vai muito além da mera crítica liberal das instituições efetuada por filmes como Um Estranho no Ninho (1975), aproximando-se por esse viés de Zero em Conduta (1932), de Vigo, do qual pode ser considerado uma releitura politicamente mais afiada, mas bem menos ousada visualmente. A canção que é o hino da escola, assim como a austeridade com que é filmada o prédio da mesma e seus arredores, compõem um bucólico quadro que o realizador evidentemente ironiza pelo choque que traz em relação a efervescência cultural contemporânea que vivencia a própria Inglaterra e chega a ser comentada brevemente por um dos professores. Destaques para a bela fotografia que alterna a todo o momento as cores e o preto e branco e para a interpretação cínica de Mcdowell, que já com sua estréia no cinema selaria sua personificação típica que voltaria a ser explorada em filmes como Laranja Mecânica (1971) e o próprio O Lucky Man. Há uma evidente atmosfera homo-erótica no ambiente do colégio, que transcende o fato de ser explicitada em sinal de ironia por Travis em relação a conduta de boa parte dos deões com relação aos garotos mais jovens, no sentido de que tampouco deixa de estar presente, por exemplo, na relação entre Travis e Johnny. Anderson, um dos realizadores que ficou associado com o Free Cinema, movimento documental dos aos 50, e sua contraparte de ficção na década seguinte, filmou na própria escola em que foi estudante.  Palma de Ouro no Festival de Cannes. Memorial Enterprises para Paramount British Pictures. 111 minutos. 

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