Filme do Dia: Boa Sorte, Meu Amor (2012), Daniel Aragão
Boa Sorte,
Meu Amor (Brasil, 2012). Direção: Daniel Aragão. Rot. Original: Daniel Aragão,
Gregorio Graziosi & Daniel Aragão. Fotografia: Pedro Sotero & Daniel
Aragão. Montagem: Daniel Aragão & Luiz Otávio Pereira. Dir. de arte:
Juliano Dornelles. Com: Vinicius Zinn, Christiana Ubach, Gregorio Graziosi, Maeve Jinkings, Carlo
Mossy, Rogério Trindade, Zezé Matos.
Dirceu (Zinn) trabalha numa empresa de demolições. Maria (Ubach) tenta se afirmar como música, fazendo bicos. Ambos possuem origens sertanejas mas moram no Recife. Dirceu, playboy que não consegue se ligar afetivamente a ninguém, apaixona-se por Maria. Porém, num jantar que oferece aos amigos, Maria não aparece. Ele a busca no apartamento que dividia com um amigo, mas não a encontra. Maria, grávida, pensa em fazer um aborto. Desesperado, ele viaja até o interior em que ambos nasceram, encontrando sua humilde mãe, assim como seu rico pai.
Se os excessos ficassem restritos ao seu exuberante visual, presente
já desde os planos iniciais, que esbanjam bossa e estilo, talvez acabassem por
tornar eventualmente satisfatório um material mais proveitoso. Não é o que
ocorre, no entanto. Carregado de simbolismo e redundância, o filme, com suas
pretensões existencialistas poderia ser considerado um descendente de produções
dos anos 50 e 60 de um Rubem Biáfora ou Walter Hugo Khouri, caso não houvesse
um evidente descompasso entre a sua ultra-estilizada imagem e sonoridade e
momentos de pura trivialidade e linguajar de mesa de bar entre amigos. Aliás, ao contrário de seus antecessores, mais sábios nesse quesito, pretende
unir esse discurso pseudo-existencial com uma crítica social que compartilha
uma das pedras de toque da produção contemporânea recifense, dizendo respeito
ao usos – e sobretudo abusos – do espaço urbano, da verticalização e da
degradação dos lugares de memórias. Os últimos sobrevivem apenas enquanto
fotografias de uma outra época, de um tempo que o próprio protagonista
(alter-ego do realizador?) duvida se de fato existiu. Porém, a conjugação de
tais elementos soa algo forçosa e pouco orgânica, quase ao ponto de outro filme
(Corpos Celestes) tampouco
destituído de uma verve passadista e de um acerto de contas com a infância e
também vinculado ao espaço da província. E, ainda pior que tudo isso, é o
crescente efeito de grandiloquência que pretende saturar de som e imagem o que
há de vazio em termos de proposta efetiva, tornando-se algo passível do humor
involuntário em alguns momentos. Ou ainda a forma excessivamente estereotipada
com que é retratado o núcleo da família sertaneja, assim como a própria região
enquanto espaço da ameaça, observado a partir do prisma de seu protagonista,
letrado, burguês e urbano (ao contrário, por exemplo, de Árido Movie). E também, em meio a um elenco irregular, a fraqueza
do ator que interpreta o personagem principal em contraste com a interpretação
bem mais afinada de sua contraparte feminina. Orquestra Cinema. 95 minutos.
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