Filme do Dia: Diários de Motocicleta (2004), Walter Salles
Diários de Motocicleta (Argentina/EUA/Alemanha/Reino Unido,
2004). Direção: Walter Salles. Rot. Adaptado: José Rivera, baseado nos livros Notas de Viaje, de Che Guevara e Con el Che por America Latina, de
Alberto Granado. Fotografia: Eric Gautier. Montagem: Daniel Rezende. Dir. de
arte: Carlos Conti. Cenografia: Laurent Ott. Figurinos: Beatriz de Benedetto
& Marisa Urruti. Com: Gael Garcia Bernal, Rodrigo De la Serna, Susana
Lanteri, Mía Maestro, Mercedes Morán, Jean-Pierre Noher, Gustavo Pastorini,
Ulises Dumont.
O jovem estudante de medicina Ernesto
Guevara (Bernal) junto ao amigo bioquímico Alberto Granado (Serna), se despede
de sua família e parte para uma longa viagem pela América Latina - inicialmente
a bordo da motocicleta do segundo. A primeira parada de longa duração é na
residência de Chichina (Maestro), namorada de Guevara, ainda que sob a oposição
dos pais da garota. Adentram no Chile em pleno rigor do inverno e também
visitam uma mina no deserto do Atacama, onde presenciam a realidade sofrida do
povo. Posteriormente vão ao Peru, onde visitam as cidades históricas e são
escorraçados de uma cidadela onde Guevara se enamorou de uma mulher casada.
Porém, talvez a experiência mais profunda tenha sido vivenciada no leprosário
peruano, em que se tornam verdadeiros heróis. A despedida dos dois amigos se dá
quando Granado resolve se casar e Guevara pegar um avião de retorno à
Argentina, não sem antes destacar o quanto mudara após a experiência da viagem.
Embora a viagem da dupla possua uma
forte carga simbólica que potencialmente transcenderia o mero turismo exótico,
seja enfatizando um pan-americanismo (acentuado no trecho do discurso de
despedida de Che no leprosário) ou ainda antecipando o caráter de militância
política de Guevara, o filme de Salles parece, no final das contas, ressaltar
mais uma conotação de experiência turística e anedótica que qualquer outra.
Nesse sentido suas paisagens que são verdadeiros cartões postais e sua
exuberante fotografia, assim como os momentos dramáticos-cômicos vividos pela
dupla acabam se inserindo perfeitamente num repertório já demasiado codificado
pelas produções de um certo “cinema de arte” produzido nas últimas décadas,
perdendo em vitalidade e conquistando imediatamente a aderência do público
médio ao qual se destina. O filme se insere, portanto, no habitual filão de representar
fatos vivenciados retrospectivamente pela sua veia mais sentimental e
heroicizante, como no episódio da colônia de leprosos, sendo tal emocionalismo
paternalista manipulado muitas vezes em sua forma mais rasteira, sem fazer jus
às verdadeiras faces de populares que posam para a câmera no seu momento
documental em p&b ao final. Diante da intensidade dos seus rostos, a
narrativa de ficção que os antecede soa bastante artificiosa (no pior sentido
do termo) e banal. Não menos banal e lugar comum é a sua representação da conscientização política do personagem
através das situações que se depara no decorrer da viagem. Curiosamente, o
título não faz jus à ação, já que a motocicleta em questão quebra na metade da
jornada e, portanto, antes de seu momento mais relevante. South
Fork Pictures/FilmFour/Tu Vas Voir Productions/BD Cine/Senator Film Produktion
GmbH/Southfork Pictures. 124
minutos.
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