Filme do Dia: Cópia Fiel (2010), Abbas Kiarostami


Cópia Fiel (Copia Conforme, França/Itália/Bélgica, 2010). Direção e Rot. Original: Abbas Kiarostami. Fotografia: Lucca Bigazzi. Montagem: Bahman Kiarostami. Dir. de arte: Giancarlo Basili & Ludovica Ferrario. Cenografia: Francesco Spina. Figurinos: Marzia Nardone. Com: Juliette Binoche, William Shimmel, Jean-Claude Carrière, Agathe Natanson, Gianna Giachetti, Adrian Moore, Angelo Barbagallo, Andrea Laurenzi.
Na Toscana, para promover seu ultimo livro, o escritor James Miller (Shimmel) acaba sendo levado a um passeio por uma mãe solteira, Elle (Binoche), contrariada pelo fato de criar sozinha o seu filho adolescente (Moore). O que parecia ser um simples passeio de cortesia ou, no máximo, de flerte, transforma-se numa infinita lavagem de roupa entre um casal casado há 15 anos que vivencia uma forte crise em sua relação.
Aproximando-se como nunca da “tradição moderna” do cinema europeu dos anos 1960 – e, evidentemente, do filme que a antecipou, Viagem à Roma (1953), de Rossellini  - a partir do uso intenso da elipse,  mas sem tampouco deixar de trazer uma reflexão mais atinada com jogos narrativos contemporâneos, a partir do momento em que parece se tornar uma peça pregada ao espectador, que não consegue se situar na releitura que Kiarostami apresenta da ambigüidade modernista. Existem temas que são recorrentes na filmografia do realizador, como é o caso do próprio caráter movediço de verosimilitude que se movem seus personagem. Algo também presente, aliás, no aspecto visual, como é o caso dos longos travellings, num deles apresentando um longo diálogo do par principal no carro, noutro apresentando um engenhoso efeito a partir de um recurso simples de menção a  relação entre diálogo e imagem – no momento em que o escritor comenta que a discussão de ambos faz com que percam  a oportunidade de observar a beleza da paisagem, travellings da mesma acabam se sobrepondo aos planos dos dois. Porém, é justamente a partir do momento em que o filme assume de vez a sua ambiguidade com relação a situação (eles serão de fato um casal?) que o filme passa a perder o frescor que demonstrara em seu prólogo. E demonstra a fragilidade do excesso de auto-reflexividade vazia diante de uma aproximação mais convencional e densa do próprio tema em questão, como é o caso do filme de Rossellini, infinitamente superior. É o caso da seqüência no restaurante, que beira a mais banal trivialidade.  Aqui, o que de fato se apresenta não vai além de servir como passaporte para seu jogo narrativo, ao apresentar situações de conflito homem/mulher rasos o suficiente para se adequarem ao modelo. É muito pouco. Melhor que isso talvez seja a forma com que Kiarostami se aproveita da espontaneidade de não atores e consegue emplacar uma interpretação que suscita aproximações com a efetivada por Straub em Gente da Sicília. Algo que se estende ao próprio uso de atores profissionais, como é o caso de Giachetti. De todo modo, nesse que é seu primeiro longa rodado no exílio, o diretor parece ter sucumbido em grande parte ao que seus produtores tinham a lhe oferecer, e o filme tanto em termos de fotografia, quanto de atriz, vivendo um personagem tão chapado e inferiorizado diante de seu sofisticado contra-parte que bem poderia evocar ser não mais que um personagem de sua própria obra ficcional, aproximando-se talvez demasiado bastante dos filmes de Haneke, igualmente apoiados pelo mesmo núcleo de produção – Haneke se encontrava à época rodando, inclusive, um filme protagonizado pelo mesmo ator. Destaque para a presença do roteirista e ator bissexto Carrière com seu inconfundível tom de voz.  MK2 Prod./Bibi Films/Abbas Kiarostami Prod./France 3/Canal + para MK2 Diffusion. 106 minutos.

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