Filme do Dia: Elogio do Amor (2001), Jean-Luc Godard


 


Elogio do Amor (Éloge de l´Amour, França/Suíça, 2001). Direção e Rot. Original: Jean-Luc Godard. Fotografia: Julien Hirsch & Christophe Pollock. Montagem: Raphaëlle Urtin. Figurinos: Marina Thibaut. Com: Bruno Putzulu, Cecile Camp, Jean Davy, Françoise Verny, Audrey Klebaner, Jérémie Lippman, Claude Baignières, Remo Forlani.
Um projeto sobre o amor em três gerações está para ser levado a cabo pelo diretor de cinema Edgar (Putzulu), que tem como uma das protagonistas a garota Elle (Camp). Ele conhecera a garota, na verdade, dois anos atrás, quando visitara a casa de um casal sobrevivente ao Nazismo, em que ela tentava articular uma maneira dos avós (Davy e Verny) ganharem dinheiro a partir de seus próprios sofrimentos passados.
Godard, através de métodos bastante recorrentes em sua produção do período, procura traçar um painel ao mesmo tempo irônico e lírico sobre, entre outros muitos temas,  a memória da Segunda Guerra e sua apropriação pela indústria de consumo de massa, representada sobretudo pelo cinema norte-americano. Há uma nítida indissociação entre a crítica política mais ampla e o cinema na construção de uma ficção que dá às costas para a própria história que é alvo a todo o momento do cineasta – exemplificado, mais precisamente no desejo dos americanos se apropriarem de histórias alheias para cobrirem a lacuna de sua própria falta de história e na figura do cineasta Steven Spielberg e sua reapropriação oportunista (chegando ao ponto de destacar as dificuldades financeiras da viúva de Schindler na Argentina) da memória do terror judeu em A Lista de Schindler. Tudo construído na sua habitual forma de aforismos visuais ou literários, tanto quanto as célebres Notas sobre o Cinematográfo, de Bresson, um dos tantos livros referidos, extremamente árido e eventualmente tocada por momentos de uma intensa poética das imagens. Aqui, ao contrário do habitual, o momento contemporâneo é filmado em p&b e o flashback em cores intensas, paradoxalmente evocativas do antigo technicolor do cinema clássico de Hollywood, ainda que ao retornar ao momento contemporâneo o filme siga em cores. Ao mesmo tempo, agregado a discussão sobre a memória da guerra e o cinema, existe latente ou não uma reflexão ainda mais instigante sobre temas universais como o amor e a própria vida, sintetizados na indagação sobre o que seria a vida adulta, uma imensa interrogação que separa a juventude da velhice, ambas bastante definidas. Entre os efeitos estilísticos utilizados em outras produções do período, Godard faz intenso uso de frases recorrentes, tela escura com a presença dos diálogos e (bastante mais utilizada em sua série Historia (s) do Cinema, onde trabalha temas bastante semelhantes aos aqui presentes) estranhos “colisões” de imagens. Entre os filmes citados se encontram Pickpocket, de Bresson e A Maçã, de Samira Makmalbaf, cujos cartazes são vistos ao fundo de alguns planos. Avventura Films/Le Studio Canal +/Les Films Alain Sarde/Périphéria/TSR/Veja Film/arte France Cinéma. 97 minutos.
                                                                                                                                         

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