Filme do Dia: Corazón de Niño (1963), Julio Bracho


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Corazón de Niño (México, 1963). Direção: Julio Bracho. Rot. Adaptado: Julio Bracho & José Maria Fernández de Unsáin, a partir da peça de Edmondo de Medicis. Fotografia: Agostín Martínez Solares. Montagem: Jorge Bustos. Dir. de arte: Roberto Silva & Carlos Echeverria. Cenografia: Carlos Grandjean. Com:  Ignacio López Tarso, Eduardo Fuentes, Adán R. Solís, Arturo Álvarez Limón, René Azcoitia, Javier Gómez, Jesús Brook, Roberto Rojo de la Vega.
Em um vilarejo rural, Taxco, o novo professor ginasial Almeyda (Tarso), que substituirá o professor recém-falecido, que foi seu mestre um dia, depara-se com a dura realidade de crianças pobres. Existe o garoto que se levanta a noite para pintar os trabalhos de artesenato do pai sem ele saber. O que é atropelado por um caminhão ao tentar socorrer o amigo. O que viaja para a Cidade do México em busca da mãe, e a encontra em recuperação num hospital para queimados. O que perdeu a mãe e somente possui o avô como referência familiar. O desajustado que somente pensa em pregar peças nos colegas e matar passarinhos. Outro tem que lidar com o pai alcóolatra. Almeyda, mesmo exigente, procura ajudar os garotos como pode. Consolando que perdeu a mãe e posteriormente ralhando com o mesmo por ter deixado seu amigo partir para a Cidade do México sem conhecer ninguém lá, etc. Ao final do ginásio, faz um discurso emocionado para seus alunos e parentes, assim como o corpo docente da escola, no dia da formatura da turma.
Por mais que o material – baseado numa peça italiana que curiosamente já havia rendido outra adaptação pelo cinema mexicano em 1939 -  que Bracho se detenha seja um tanto ingrato em termos de potencial pieguice e/ou exaltação nacionalista e ambos estejam efetivamente presentes ao longo do filme, este ainda assim se sustenta com mais do que razoável dignidade. Se o ultra-idealizado professor, que sequer vida sexual ou afetiva possui, parece antecipar, a seu modo, aquele mais célebre vivido por Poitier em Ao Mestre, com Carinho (1967), o enfrentamento aqui será menos do tipo de afirmação dos valores liberais como o antecessor Sementes da Violência (1955), de Richard Brooks, que de personificação do próprio Estado enquanto acolhedor e transformador no ajustamento de seus pupilos ao mundo exterior. Para efeitos comparativos, tome-se como exemplo a digressão do garoto que viaja para a Cidade do México e se vê temporariamente atraído pelo zoológico, numa sequência evocativa de semelhante situação por um dos garotos de Rio 40 Graus (1955), de Nélson Pereira dos Santos. Enquanto no filme brasileiro a criança negra é simplesmente expulsa do parque sem maiores delongas por um dos vigilantes, aqui ela é carregada pelo policial até a central de polícia e de lá, levado pelo mesmo policial até o hospital onde se encontra hospitalizada sua mãe. Não custa ressaltar que mesmo com o excessivo idealismo, o filme consiga se sair dramaticamente bem na sua maior parte, com exceção de alguns excessos melodramáticos envolvendo as relações entre pais e filhos como é o caso dos pais que descobrem o filho pintando na surdina as peças artesanais do pai ou – e principalmente - daquele que reencontra o pai após anos e àquele que encontra sua mãe no hospital. Isso se dá pela recusa a movimentos de câmera grandiloquentes, característica bastante comum na produção cinematográfica mexicana do período clássico e mesmo por uma banda sonora relativamente contida ou mesmo ausente em determinados momentos dramáticos, como que consciente de que a utilização da música acabaria soando redundante. E mesmo naqueles nos quais é feito um certo uso apelativo da mesma, parece menos emocionalmente manipulativa que muitos dos seus congêneres norte-americanos. Ainda que as condições materiais precárias das famílias sejam apresentadas, tudo, como é regra no melodrama, parece ter como causa última uma dimensão moral. Assim podem ser pensadas duas das mais inconvincentes “reabilitações” conseguidas pelo mestre, a do pai alcoólatra, digna de Griffith na Biograph ( A Drunkard’s Reformation o exemplo mais clássico), e a do garoto rebelde domado pelo simples convite de tomar um café da manhã com o mestre. Técnicos y Manuales del Sindicato de Trabajadores de la Producción Cinematográfica. 87 minutos.


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