Filme do Dia: Casei-me com uma Feiticeira (1942), René Clair
Casei-me
com uma Feiticeira (I Married a Witch,
EUA,1942). Direção: René Clair. Rot. Adaptado: Robert Pirosh & Marc
Connelly a partir do conto de Thorne Smith. Fotografia: Ted Tetzlaff. Música:
Roy Webb. Montagem: Eda Warren. Dir. de arte: Hans Dreier & Ernst Fegté. Cenografia: George Sawley. Figurinos: Edith Head. Com:
Fredric March, Veronica Lake, Robert Benchley, Susan Hayward, Cecil Kellaway,
Elizabeth Patterson, Robert Warwick.
Em 1672,
dois bruxos, Daniel (Kellaway) e sua filha Jennifer (Lake) são condenados pelo
puritano Jonathan Wooley (March). Nos anos 1940, o espírito dos bruxos retoma a
forma humana, com o propósito de atormentar a vida do descendente de Jonathan,
Wallace (March), que no momento se encontra em vias de se sagrar como
governador e se casar com Estelle Masterson (Hayward), de rica família.
Tentando enfeitiçar Wallace, Jennifer enfeitiça ela própria e se apaixona de
fato por ele. Após ter conseguido interromper o casamento e praticamente
arruinar a carreira política de Wooley, ela consegue reverter a situação,
sagrando-o governador. Porém, sua paixão tem um preço a pagar: a perda de suas
habilidades mágicas. Seu pai a convence a retornar ao mundo dos espíritos na
árvore, mas depois de dada como morta, Jennifer ressurge após o beijo de Wooley,
tendo várias filhas com ele, uma delas com uma estranha compulsão para brincar
com uma vassoura!
Esse
filme de Clair, principalmente no início e parte de seu final, traz um frescor
anárquico um tanto incomum ao cenário hollywoodiano da época. Guardadas
evidentemente as devidas proporções, seu surreal prólogo, com as observações
irônicas ao american way of life por
conta dos espíritos que retornam a vida (e ficam chocados com o que a sociedade
de puritanos se transformou!), é evocativa do radical Häxan. Aos poucos, no entanto, o filme torna-se mais próximo de ser
um precursor de séries televisivas dos anos 1960, ou compartilhar do senso das “comédias malucas”
mais triviais do período, com um humor mais domesticado mas nem por isso isento
de momentos efetivamente hilários – como o que o vapor mágico acaba fazendo com
que toda a população sem exceção, incluindo do próprio candidato opositor aos
bebês numa maternidade, exaltem Wooley; a louvação mais engraçada parte do
carcereiro de uma prisão. Se nas cenas finais o mesmo tom de anarquia com
relação ao mocinho que é percebido na voz de Jennifer parece antecipar
estratégias desconstrutivas de décadas após nas relações entre gêneros, como as
presentes nos filmes de Fassbinder, infelizmente também criam uma expectativa,
por sinal confirmada, de que a ordem será restabelecida como num passe de
mágica ou, melhor dizendo, num beijo, algo tão clichê que chega a soar como
bazófia de Clair. Lake, com uma máscara facial que parece atestar seus limites
enquanto atriz, ao menos nesse momento inicial de sua carreira, teria o pique
meteórico da mesma pouco após essa produção e nos anos 50 já era considera
página virada em termos de papéis ou filmes interessantes. Dalton Trumbo foi
roteirista não creditado. Talvez a relativa autonomia do realizador tenha se
dado ao fato de precocemente ter efetivado uma produção independente. Rene
Clair Productions para United Artists. 77 minutos.
Comentários
Postar um comentário