Filme do Dia: Já Não Me Sinto em Casa Nesse Mundo (2017), Macon Blair
Já Não Me Sinto em Casa Nesse Mundo (I Don’t Feel at Home in This World Anymore,
EUA, 2017). Direção e Rot. Original: Macon Blair. Fotografia: Larkin Seiple.
Música: Brooke Blair & Will Blair. Montagem: Tomas Vengris. Dir. de arte:
Tyler B. Robinson. Cenografia: Jenelle Giordano. Figurinos: Julie Carnahan.
Com: Melanie Lynskey, Elijah Wood, David Yow, Jane Levy, Jana Lee Hamblin, Christine Woods, Devon Graye, Derek Mears, Cristy Miles, Gary
Anthony Williams.
Ruth (Lynskey) é uma
mulher desesperançada com a vida, observando o que imagina ser uma degradação
dos valores na sociedade americana regida pelo verbo f.... . Sua casa é
invadida e um objeto que pertencera a sua avó, mais do que o próprio laptop, é
o que mais a preocupa. Após tentativas mal sucedidas de fazer com que a polícia
se interessasse por seu caso, Ruth resolve ela própria agir. Através do celular consegue identificar onde
o computador se encontra, com a ajuda de um novo amigo e vizinho, Tony (Wood).
Logo descobrirão o antiquário, onde o pessoal que estava com seu laptop o
comprou e também aquele que provavelmente foi responsável pelo furto, Christian
(Graye). O grupo do qual Christian faz parte, comandado por Marshall (Yow),
também já se encontra de olho nela.
Apesar do instigante
título, mais próximo de uma produção existencialista e pretensiosa francesa,
trata-se de um amontoado de clichês nem dramáticos nem cômicos interpretados
por um elenco canhestro ao ponto do constrangimento, a começar pela que encarna
a protagonista. Mesmo quando se posiciona ao lado de seus tipos “excêntricos”,
fá-lo sobretudo como fonte de humor. Desnecessário dizer do quanto o filme
abusa de cenas de violência ao limite do cômico, porém longe de algo da verve
de um Tarantino. E o sangue, os vômitos e as mortes testemunhadas por Ruth soam
como uma materialização do estranhamento dessa com o mundo e, provável
passaporte para sua “cura”; em última instância, poder-se-ia afirmar que toda a
carnificina observada no filme não tem outro fim anunciado que não esse. E,
ainda pior que isso, para alguns momentos de suspense numa fuga que pode
representar a vida ou a morte. As imagens, sobretudo ao início, são elaboradas
com um irritante redundância, através de uma montagem didática, que resume o
que seria sua personagem, ao mesmo tempo sinônimo de preguiça estética e que
induzem uma preguiça do espectador diante do que já foi mastigado em excesso. Se existe algum mérito nessa produção, é que
tal sensação parcialmente se dilui com o avançar da narrativa e mesmo seu final,
inteligentemente abdicando da prédica da superação moral esperada. Se o filme
pode ser considerado um subproduto de
abordagens mais ou menos próximas da que um realizador como David Lynch efetuou
em Veludo Azul, aqui não existe
exatamente um abismo entre vítimas e criminosos, uma inocência quase caricata e
a figura do mal, tornando-se a própria Ruth ocasionalmente mais violenta que
alguns daqueles que se embate em busca de um objeto que parece representar os
valores sociais perdidos (inclusive por ela). Talvez uma das principais falhas
do filme seja não conseguir se situar exatamente, em termos de gênero, sendo
que isso não parece ser uma decisão consciente como a de outros filmes
contemporâneos, a exemplo de Corra!
O diretor surge em uma ponta como o homem que está lendo o mesmo livro que Ruth
em um bar. Film Science/XYZ Films. 93 minutos.
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