Filme do Dia:O Eclipse (1962), Michelangelo Antonioni
O Eclipse (L´Eclisse, Itália/França, 1962). Direção:
Michelangelo Antonioni. Rot. Original: Michelangelo
Antonioni, Enio Bartolini, Tonino Guerra & Ottiero Ottieri. Fotografia: Gianni Di Venanzo.
Música: Giovanni Fusco. Montagem: Eraldo Da Roma. Dir. de arte: Piero Poletto.
Cenografia: Piero Poletto. Figurinos: Bice Brichetto & Gitt Magrini. Com:
Monica Vitti, Alain Delon, Francisco Rabal, Louis Seigner, Lilla Brignone,
Rosanna Rory, Mirella Ricciardi, Cyrus Elias.
Vittoria (Vitti), entediada e em crise existencial, decide
romper sua relação com Riccardo (Rabal). Riccardo insiste, mas Vittoria finca
pé em sua decisão. Vai até a Bolsa de Valores onde encontra a mãe (Brignone) e se
sente atraída por um rapaz que trabalha lá, Piero (Delon).
Último filme da chamada Trilogia
da Incomunicabilidade de Antonioni, também composto por A Aventura
(1960) e A Noite (1961), na qual o cineasta radicaliza mais que
qualquer outro filme anterior seu desinteresse por construir uma narrativa
clássica e onde muito do que ocorre não possui qualquer relação direta com o
eixo central do mesmo (pelo menos, em termos convencionais) como a dança de
Vittoria caracterizada como africana no apartamento de uma vizinha ou a longa
seqüência que descreve as atividades na Bolsa de Valores. O mesmo pode ser dito
de outras estratégias que o cineasta faz uso, como que ironias conscientes com
relação ao material que compõe a narrativa cinematográfica clássica, a exemplo
do minuto de silêncio em meio a mais absoluta histeria que é o ambiente da
Bolsa pela morte de um de seus funcionários – que é acompanhada em tempo real –
ou o momento em que Vittoria resolve seguir o homem que Piero havia lhe
afirmado que perdera uma quantia exorbitante em ações. O final do filme, nesse
sentido, é radical no descolamento entre o que o filme pretende mostrar –
ambientes conhecidos por onde os personagens trafegaram agora vazios ou com a presença de “desconhecidos” – e o
enredo que envolve seus personagens. Da mesma forma, sonega informações que
seriam imperdoáveis num filme clássico como as motivações que levam Vittoria a
se afastar de Riccardo ou se interessar por Piero. Nem mesmo a gratificação das
exuberantes locações fotográficas de A Aventura é fornecida ao
espectador, já que o filme centra a sua maior parte ou num moderno bairro
romano ou no prédio da Bolsa de Valores, construindo composições grandemente
formais e nada gratuitas. Essas características somadas às suas interpretações
grandemente contidas acabaram se
tornando marca registrada do cineasta e uma das demonstrações mais elaboradas
do cinema moderno europeu. Perceber como Vitti encarna uma personagem de mulher
bem moderna para sua época, falando a certo momento dos homens como meros
adereços, ao invés de chorar desesperadamente por seu amante, como ocorre em A Aventura. Cineriz/Interopa/Paris Film. 118 minutos.
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