Filme do Dia: Nuestras Islas Malvinas (1966), Raymundo Gleyzer
Nuestras Islas Malvinas
(Argentina, 1966). Direção: Raymundo Gleyzer.
Para quem antecipadamente sabe
do desaparecimento do cineasta dez anos após, vítima do regime ditatorial,
imagina-se que esse documentário curto possa se encontrar entre os antecessores
do movimento documentarista radical argentino, lembrado quase sempre por La Hora de los Hornos, de dois anos
após. Nada mais distante, no entanto, seja em termos de estilo ou de conteúdo.
Narrado do início ao final por uma mesmo narrador, a exceção de dois momentos,
nos quais entra o áudio de depoimentos de um morador ilustre britânico e de um
argentino que permanece morando lá, o filme se aproxima mais de uma leve
crônica. Conseguindo autorização do governo britânico, o então jovem de 24 anos
realiza uma série de tomadas que apresentam um pouco do cotidiano do pacato
vilarejo que é a capital da ilha. Crianças deslizando na neve com seus trenós,
um casal britânico no café da manhã, a igreja anglicana, etc. Por mais que
demonstre uma impaciência comedida, como quando apresenta a partir de uma série
de planos bem curtos – mais curtos do que os que a sua montagem já bastante
dinâmica apresenta ao longo de praticamente todo o filme – o quanto a cultura
britânica se encontra disseminada em todas as placas e máquinas automáticas
presentes ao longo da cidade, em raros momentos o filme toca diretamente em seu
ponto nevrálgico. Uma menção breve por volta de dois terços do filme
transcorrido e, finalmente, a expectativa final de um dia ver a bandeira
inglesa (ironicamente presente até o final do último plano, como a lembrança de
uma realidade humilhante) substituída pela argentina. Sua trilha também
corrobora para uma estética que se aproxima mais das atualidades do que
propriamente de um documentário. O fato de ter sido produzido para a televisão
talvez seja bastante significativo dessa aproximação. São temas marciais e
clássicos – inclusive por um breve momento a mesma Quinta de Mahler que uma
meia-dúzia de anos após seria celebrizada no cinema em Morte em Veneza que surge durante uma tomada aérea – que configuram
a maior parte da banda sonora. É digno de nota que, em nenhum momento Gleyzer
desqualifique ou ironize, através do comentário, com qualquer dos cidadãos
britânicos filmados. Talvez ele aposte numa leitura a contrapelo das próprias
imagens por seus conterrâneos. 30 minutos e 17 segundos.
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