Filme do Dia: Um Sonho de Amor (2009), Luca Guadagnino
Um Sonho de Amor (Io Sono L’Amore, Itália, 2009). Direção:
Luca Guadagnino. Rot. Original: Luca Guadagnino, Barara Alberti, Ivan Cotroneo
& Walter Fasano, a partir do argumento de Guadagnino. Fotografia: Yorick Le
Saux. Música: John Adams. Montagem: Walter Fasano. Dir. de arte: Francesca
Balestra de Mottola. Cenografia: Monica Sironi. Figurinos: Antonella
Cannarozzi. Com: Tilda Swinton, Flavio Parenti, Edoardo Gabriellini, Alba
Rohrwacher, Pippo Delbono, Diane Fleri, Maria Paiato, Marisa Berenson.
A rica
família Recchi recebe surpresa a nomeação do jovem e inexperiente Edoardo
(Parenti) como um dos presidentes da indústria fundada por seu avô. O melhor
amigo de Edoardo, Antonio (Gabriellini) passa a manter uma relação secreta com
sua mãe, Emma (Swinton) e a irmã, Betta (Rohrwacher) decide assumir sua
homossexualidade. Quando Edoardo fica sabendo de tudo, ele se revolta contra a
mãe e acidentalmente cai na borda da piscina e vem a falecer após entrar em
coma profundo. Emma decide abandonar a família e assumir seu amor por Antonio.
Comparado
por vezes equivocadamente com o estilo de Visconti, demonstra sobretudo um
falso estranhamento pseudo-modernista que deixa em aberto por muito tempo sobre
qual será a linha dramática a ser aprofundada. Porém, tanto tal lacuna parece
ser fruto menos de uma decisão auto-consciente do que de sua própria
fragilidade e inocuidade e, ao mesmo tempo, quando se afirma de fato aonde o
filme quer chegar, cai-se numa banal história de amor e desejo que em nada fica
a dever, guardadas as devidas proporções, a ilustres antepassados tais como Quando o Coração Floresce (1955), de David Lean, igualmente centrado no
redespertar do amor de uma mulher de meia-idade atraída por um homem mais
jovem. Até mesmo seu tom moderado, que o acompanha do início até próximo do
final sucumbe com a opção desastrosa e fácil da morte de Edoardo. Se os
paralelos com Visconti foram buscados no detalhamento com que descreve os rituais
familiares, trata-se de algo longe de equivalente, já que aqui, ao menos na
versão ao qual foi reduzido (sua metragem original era de nada menos que 210
minutos) a presença desses rituais se encontra longe da forma quase fastidiosa
com que Visconti os descrevia em O Leopardo (1963), como evidentemente se trata de uma narrativa passada na contemporaneidade
em que foi produzida e centrada numa família eminentemente burguesa e não na
aristocracia decadente como naquele. As tramas paralelas tampouco conseguem
apresentar alguma substância maior ou organicidade com o restante da narrativa,
como é o caso do episódio envolvendo a dubiedade sexual de Betta. Quando se
afasta da chave contida o filme derrapa em um tom patético que beira o
involuntariamente cômico. Referências epidérmicas a obra de Visconti surgem
ocasionalmente, seja no personagem de Tancredi, mesmo do jovem vivido por Delon
em O Leopardo, na presença de Berenson – atriz de Morte em Veneza - como coadjuvante, ou
em locações que haviam sido celebrizadas em filmes seus, como é o caso da
Catedral de Milão em Rocco e seus Irmãos
(1960), sendo que nesse último quesito cumpre destacar que aqui tais locações,
como outras de idêntico apelo, parecem surgir apenas como um elemento “cartão postal” a mais na apresentação desse
mundo pretensamente charmoso. First Sun/Mikado Film/RAI Cinema para Mikado
Film. 120 minutos.
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