The Film Handbook#12: Max Ophüls
Max Ophüls dirigindo Vittorio De Sica e Danielle Darrieux numa de suas típicas cenas repletas de adereços em Desejos Proibidos |
Max Ophüls
Nascimento: 06/05/1902/Saarbrucken, Alemanha
Morte: 26/03/1957/Hamburgo, Alemanha Ocidental
Tendo se concentrado ao longo de sua carreira no tema da efemeridade do amor, Max Oppenheimer, posteriormente Ophüls, foi frequentemente desconsiderado por críticos contemporâneos como um talento frívolo com incomum estilo visual. Mais recentemente, no entanto, sua reputação tem sido objeto de drástica reavaliação, em parte por conta de seu duradouro interesse no destino de mulheres vivendo em uma sociedade opressivamente patriarcal.
Tendo feito seu nome como ator-tornado-diretor de teatro, Ophüls foi convidado em 1930 a tentar sua mão no cinema; sua estréia, o curta Rather Cod Liver Oil (Dann Schon Lieber Lebertran), foi co-roteirizado com Emeric Pressburger de um conto do escritor infantil Erich Kästner. O melhor de seus primeiros filmes, Uma História de Amor (Liebelei)>1, já revela o estilo de Ophüls de forma relativamente desenvolvida: um retrato do amor condenado de uma garota tímida por um tenente atormentado por seu passado; sua utilização da música (a sinistra abertura em cordas da Quinta Sinfonia de Beethoven), cenários opressivamente extravagantes e uma visão sombria das noções de propriedade do Império Habsburgo para reforçar a repressão que tornam a inocência e a paixão efêmeras. De forma semelhante (tendo fugido da ascensão do Nazismo para trabalhar na França, Holanda e Itália) em La Signora di Tutti. Ophüls analisa o abismo entre a fantasia romântica e a desagradável realidade através das memórias do amor perdido de uma atriz que morre. Tempo, ausência e morte são definidos em constante contraponto ao incessante ciclo de sedução, amor e traição.
Com a queda da França, Ophüls abandona a Europa por Hollywood onde, por vários anos permanece sem trabalho. Em 1947, Robert Siodmak finalmente conseguiu chamar a atenção dele para Douglas Fairbanks Jr., que o empregou para dirigir O Exilado/The Exile, um estilizado capa-e-espada sobre Carlos II, notável por seus movimentos graciosamente acrobáticos com o qual a câmera segue os movimentos de seu astro. Mais próximo da obra inicial de Ophüls, no entanto, foi Carta de uma Desconhecida (Letter from an Unknow Woman)>2, história potencialmente romanesca de uma garota que nutre uma paixão por um pianista, apenas para ser tratada anos depois como sua empregada, com desprezo tragicamente insensível. Mais uma vez o diretor transformou seu material por meios visuais, uma imaculada recriação da Viena fin-de-siecle (cenário favorito do realizador) e uma câmera itinerante que serve para interceptar a heroína tanto no indiferente mundo masculino quanto em suas próprias fantasias românticas. Coração Prisioneiro (Caught)>3 (uma modelo casa-se com o magnata de seus sonhos, antes de descobrir que ele é psicoticamente incapaz de amar verdadeiramente) e Na Teia do Destino (The Reckless Moment, onde uma mulher é chantageada após ocultar a morte de um homem para proteger sua filha das acusações de homicídio) foram ainda mais notáveis, adaptando o estilo visual distintamente fluido de Ophüls a sua visão simpática de mulheres restritas às convenções tensas, repletas de suspense e fatalidade do noir.
Os filmes realizados após o retorno de Ophüls à França, ainda mais pesadamente estilizados e desdenhosos do realismo que os de antes fazem uso saboroso de cenários e figurinos de época e absurdas coincidências narrativas. A cadeia de episódios interligados que se detém nas alegrias e vicissitudes da sedução e separação em Conflitos de Amor/La Ronde tornam-se um exercício formal em circularidade, seus motivos (um carrossel, uma valsa) chamam a atenção para um narrador onisciente que igualmente edita a história, explica e vaga pela ação, comentando sobre o tema do amor com suave e perspicaz ironia. O Prazer/Le Plaisir, um apanhado de três contos de Maupassant é outra meditação sobre as várias opções abertas às mulheres, enquanto em Desejos Proibidos/Madame De...>4, talvez o melhor filme de Ophüls, um par de brincos passa de mão em mão, simultaneamente proporcionando um ousado artifício narrativo e iluminando a natureza econômica da dependência da heroína de seu rico cônjuge e envolvimento em um trágico caso amoroso; raramente, o foco do diretor sobre a implacável passagem do tempo (significado, como sempre, pelos movimentos de câmera inquietamente circulares) e seu reconhecimento do poder da riqueza material e moralidade burguesas foram empregados com efeito tão sombrio e comovente.
O último filme de Ophüls é ao mesmo tempo seu mais famoso, ambicioso e, por fim, desapontador. Lola Montès>5, filmado extravagantemente em tela larga e cores é sua definitiva história de uma mulher aprisionada. Delineado através de flashbacks anunciados por um mestre de cerimônias circense tornado narrador, Peter Ustinov, o passado notório da celebrada aventureira que é reduzida a posar (a mulher como espetáculo a ser explorado) a um público sedento por escândalos. Celebrado por sua equação entre estilo e conteúdo (nunca o gosto de Ophüls por movimentações circulares aprisionarem uma personagem de forma tão incessante) o filme é, no entanto, demasiado explícito (Lola nos fala que "vida é movimento") e demasiado insistente em sua virtuosidade nos seus efeitos visuais barrocos; a superfície se torna tudo, e nosso envolvimento emocional se torna correspondentemente limitado.
Ophüls morreu logo após ver Lola Montès ser lançado em uma versão remontada; somente anos depois, seria apresentado a partir de suas intenções originais. Sua obra permanece impressionante, em parte por seu uso do espaço e movimento na elaboração de um tema, em parte por suas irônicas e pungentes, mas nunca sentimentais explorações do abismo entre as fantasias românticas do amor idealizado e as tristes, pérfidas e efêmeras realidades da paixão humana.
Genealogia
O próprio Ophüls expressou uma profunda admiração por Renoir e Murnau, com os quais pode ser comparado. Outros paralelos podem ser traçados com figuras tão diversas quanto Von Stroheim, Von Sternberg, Borzage, Sirk, Minnelli e Truffaut. Ele foi muito admirado pela Nouvelle Vague. Seu filho é o excelente documentarista Marcel Ophüls.
Leituras Futuras
Ophuls , org. por Paul Willeman (Londres, 1978) e Max Ophüls and the Cinema of Desire (Nova York, 1980), de Alan Williams.
Destaques
1. Uma História de Amor, Alemanha, 1932 c/Wolfgang Liebeneiner, Magda Schneider
2. Carta de uma Desconhecida, EUA, 1948 c/Joan Fontaine, Louis Jourdan, Mady Christians
3. Coração Prisioneiro, EUA, 1949 c/Barbara Bel Geddes, Robert Ryan, James Mason
4. Desejos Proibidos, França, 1953 c/Danielle Darrieux, Charles Boyer, Vittorio De Sica
5. Lola Montès, França, 1955 c/Martine Carol, Peter Ustinov, Anton Walbrook
Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 203-5.
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