Filme do Dia: Klute, O Passado Condena (1971), Alan J. Pakula

Klute, O Passado Condena (Klute, EUA, 1971). Direção: Alan J. Pakula. Rot. Original: Andy Lewis & David E. Lewis. Fotografia: Gordon Willis. Música: Michael Small. Montagem: Carl Lerner. Dir. de arte: George Jenkins. Cenografia: John Mortensen. Figurinos: Ann Roth. Com: Jane Fonda, Donald Sutherland, Charles Cioffi, Roy Scheider, Dorothy Tristan, Rita Gam, Nathan George, Vivian Nathan, Morris Strasberg, Robert Milli.
O detective particular John Klute (Sutherland) investiga o desaparecimento de Tom Gruneman (Milli), que trabalhava para o importante executivo Peter Cable (Cioffi), para quem Klute presta serviços. A polícia encontra pistas do envolvimento de Gruneman com uma prostituta, Bree (Fonda). Aos poucos, Klute percebe que Gruneman não teve contato efetivamente com Bree, porém é certo que essa continua a ser vigiada. Uma de suas amigas, Arlyn Page (Tristan) é encontrada morta. Klute, que agora se encontra cada vez mais envolvido afetivamente com Bree, encontra o apartamento dessa completamente revirado ao voltar das compras com ela. Temeroso de que algo possa a acontecer a ela, perde-a de vista. Essa procura refúgio em locais onde não consegue permanecer, como o consultório de sua analista (Nathan) ou o escritório de um cliente habitual de Breer, de idade avançada, o Sr. Goldfarb (Strasberg), que havia saído pouco antes de sua chegada. Enquanto ainda se encontra na empresa, Bree percebe que não se encontra sozinha. O homem que a persegue também se encontra no ambiente.
Nesse, que é o segundo filme de Pakula (havia estreado 3 anos antes com Os Anos Verdes), talvez fica ainda mais saliente que noutras produções em que se destaca uma maior ênfase na ação (como no mais interessante A Última Testemunha) o cuidado do realizador para com seus atores – as interpretações de Fonda e sobretudo Sutherland são primorosas. Juntamente com seu senso atmosférico, aqui restrito a uma situação menos grandiloquente, algo que também se espelha em sua produção, mais modesta que a de A Última Testemunha ou Todos os Homens do Presidente.  Se o gradual envolvimento amoroso da dupla principal é observado com relativa descrição e se, ao contrário de toda uma tradição melodramática que remete a Griffith e mesmo antes dele, aqui apresenta uma outsider sendo ameaçada por um maníaco de alto poder aquisitivo, mantém porém não apenas a figura feminina ameaçada e em grande medida frágil, como igualmente seu valente escudeiro masculino que, em última instância, a salva duplamente - sua vida e também a exclui do universo da prostituição de onde, aliás, seu algoz e maníaco já havia demonstrado que sua obsessão por ela se dava justamente por acha-la “diferente da média”, elevando-a a um patamar moral diferenciado em relação às suas colegas de profissão, que são assassinadas sem maiores escrúpulos nos bastidores da trama.  A narrativa por vezes, é apresentada tendo como pretexto as sessões de análise (cuja analista é vivida de forma interessante por Vivian Nathan). Cantando hinos religiosos na solidão de seu apartamento, a Bree de Fonda parece, em essência ser um poço de culpa pela forma em que vive, tendo como resistência para sair da mesma somente a insegurança (e subordinação) ao qual não se encontra acostumada, que o mundo dos afetos lhe proporciona ao lhe tirar de seu lugar de aparente conforto.  Ou seja, não exatamente algo que as feministas, já um tanto atuantes da época em que o filme foi lançado, provavelmente observaram com bons olhos. À guisa de tentar não parecer tão enfático nesse “ponto de mutação” da vida de sua protagonista, o filme finda com comentários da mesma, ao abandonar a cidade e o seu passado (transferido no sofrível subtítulo em português para seu parceiro) de que talvez esteja voltando na semana seguinte. Como em Hitchcock, de quem Pakula provavelmente era admirador, menos importa se manter em segredo quem é o vilão que se observar a eminência do risco a que sofre a heroína (seja a Lisa de Janela Indiscreta ao adentrar o apartamento do assassino e não saber, ao contrário do espectador, de seu retorno, seja aqui Bree se dirigindo na empresa justamente para o local onde se encontra o maníaco, numa situação persecutória evocativa, mesmo que mais discreta, de outra figura feminina célebre do cinema, a vivida por Mia Farrow em O Bebê de Rosemary).  Warner Bros./Gus Prod. para Warner Bros. 114 minutos.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: El Despojo (1960), Antonio Reynoso

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng