The Film Handbook #10: Clint Eastwood

Clint Eastwood

Nascimento: 31/05/1930, San Francisco, Califórnia
Carreira (como diretor): 1971-

Por muitos anos Clint Eastwood Jr. tem sido uma das estrelas mais populares do mundo nas bilheterias. Entretanto, ele também se firmou como um talento, ainda que errático, como diretor, alternando entre projetos  ambiciosos e aparentemente pessoais e produções de maior apelo comercial.

Eastwood se tornou inicialmente famoso como Rawdy Yates na série de western de TV Rawhide; sua imagem de durão, lacônico e calmo deriva de seu trabalhos nos westerns com títulos de "dólares" de Leone, enquanto para Siegel viveu policiais (Meu Nome é Coogan/Coogan's Bluff, Dirty Harry) e heróis do western (Os Abutres Tem Fome/Two Mules for Sister Sara, O Estranho Que Nós Amamaos/The Beguiled) tem sua vida atrapalhada pela burocracia e mulheres desonestas. Ele estava ansioso para dirigir, no entanto, e seus primeiros dois filmes foram realizados no estilo de Siegel e Leone. Bem mais sutil e menos misógino que o posterior Atração Fatal, Perversa Paixão (Play Misty for Me)>1 explora a paranoia masculina levando uma mulher patologicamente ciumenta a buscar uma vingança assassina a partir de uma noite passada com um DJ, enquanto O Estranho sem Nome (High Plains Drifter) é um estilizado e alegórico western barroco sobre culpa: a reencarnação de um marechal retorna a cidade que o traiu e agora se encontra pintada de vermelho e renomeada como Inferno antes de buscar vingança contra seus assassinos e seus covardes e hipócritas moradores.

Interlúdio de Amor (Breezy, no qual não atua) foi totalmente inesperado: um sensível e tocante romance entre uma jovem hippie e um cínico rico se desenvolve. De fato, enqaunto continuava a atuar em papéis mais convencionais para os outros, em seus próprios filmes Eastwood expôs aspectos mais vulneráveis de sua persona. Depois do rotineiro filme de ação de espionagem Escalado para Morrer (Eiger Sanction), Josey Wales, O Fora-da-Lei (The Outlaw Josey Wales)>2, um dos grandes westerns modernos - observou um assaltante sulista foragido  pôr de lado o ódio que sentia por seus inimigos e, conscientizando-se de sua necessidade para os outros, iniciar uma nova vida com uma "família" de desajustados e párias. O estilo "mínimo" de interpretação de Eastwood foi aqui equilibrado pela direção admiravelmente expressiva; as líricas paisagens fotografadas são psicologicamente evocativas do debilitamento da engenhosidade heroica de seu personagem. A seguir, Rota Suicida (The Gauntlet) satirizava a inteligência e fibra moral da persona de policial de Eastwood, enfatizando os elementos de fantasia do enredo, e transformando seu herói em um alcoólatra intrigado por uma prostituta de raciocínio rápido que repetidamente põe em questão sua virilidade. Ainda mas ambicioso foi Bronco Billy>3, no qual um fracassado sapateiro pega a estrada como uma miserável  trupe de Oeste Selvagem para viver suas fantasias de pioneiro do Oeste. Uma modesta zombaria em relação ao Sonho Americano, sua apaixonada sátira culmina na substituição da tenda destruída de seu espetáculo por uma marquise - formada por bandeiras americanas unidas pelos membros de uma instituição para insanos.

Já que nem Bronco Billy nem A Última Canção (Honky Tonk Man) - um pessimista road movie sobre um cantor de música country morrendo na ruína durante a Depressão - foram bem sucedidos nas bilheterias, Eastwood cautelosamente voltou a heróis mais convencionais em Raposa de Fogo (Firefox) e Impacto Fulminante (Sudden Impact, o mais ofensivo dos filmes da série Dirty Harry). Ele, no entanto, imprimiu sua assinatura tanto em Um Agente na Corda Bamba (Tightrope, uma perseguição policial a um assassino sexual faz com que o policial confronte sua própria masculinidade insegura e sádica) e Cidade Ardente (City Heat, uma atraentemente absurda paródia dos filmes sobre crimes) nenhum dos quais dirigiu. O Cavaleiro Solitário (Pale Rider) um western barato à moda antiga repleto de clichês, mas estilizado, na tradição de Os Brutos Também Amam (Shane), fracassou tendo diante de si a desconfiança de Hollywood em westerns pós-O Portal do Paraíso (Heaven's Gate). O Destemido Senhor da Guerra (Heartbreak Ridge) contrapôs uma outra forma de narrativa entusiasta do treinamento de marinheiros com a consciência irônica dos recentes fracassos americanos e disseminada inabilidade militar, tendo um clímax que torna a invasão americana à Granada se aparentar ridiculamente com uma escaramuça entre escoteiros.

Antes do desapontador Na Lista de um Assassino (The Dead Pool), a disposição de Eastwood de correr riscos emergiu novamente com Bird>4, um magistralmente sensível e incomumente sombrio relato dos últimos anos de um Charlie Parker debilitado e viciado em drogas. Provavelmente, este é não somente a mais autêntica e menos romantizada evocação do mundo do jazz jamais vista em um filme de ficção, mas da mesma forma uma atipicamente digna e não estereotipa descrição dos negros. De fato, a audácia dinâmica que Eastwood traz a sua obra é talvez o aspecto mais atraente de sua arte: definida por um seguro senso de ritmo o organizado e estilizado trabalho de câmera de seu colaborador regular, Bruce Surtees e suas próprias eficazmente discretas interpretações, os melhores filmes de Eastwood permanecem bons exemplos de um bem realizado e inteligente entretenimento popular.

Genealogia
Embora o débito de Eastwood para com Siegel seja claro, ele pertence a uma tradição de filmes de ação que inclui Walsh, Mann, Boetticher e Hawks. Seu sucesso como ator-tornado-diretor pode ter levado figuras tão diversas quanto Robert Redford e Sylvester Stallone a o seguirem.

Leituras Futuras
Clint Eastwood: All American Anti-Hero (Londres, 1977), de David Downing e Gary Herman.

Destaques
1. Perversa Paixão, EUA, 1971 c/Eastwood, Jessica Walter, John Larch, Donna Mills

2. Josey Wales, O Fora-da-Lei, EUA, 1976 c/Eastwood, Chief Dan George, John Vernon, Sondra Locke

3. Bronco Billy, EUA, 1980, c/Eastwood, Sondra Locke, Geoffrey Lewis, Sam Bottoms

4. Bird, EUA, 1988, c/Forest Whitaker, Diane Venora, Michael Zemicker

Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 91-2.

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