Filme do Dia: Il Divo (2008), Paolo Sorrentino
Il Divo (Il Divo – La Spettacolare Vita di Giulio
Andreotti, Itália, 2008). Direção e Rot. Original: Paolo Sorrentino.
Fotografia: Luca Bigazzi. Música: Teho Teardo. Montagem: Cristiano Travaglioli.
Dir. de arte: Lino Fiorito. Cenografia: Alessandra Mura. Figurinos: Daniela
Ciancio. Com: Toni Servillo, Anna Bonaiuto, Giulio Bosetti, Flavio Bucci, Carlo
Buccirosso, Giorgio Colangeli, Alberto Cracco, Piera Degli Esposti, Fanny
Ardant, Paolo Graziosi.
Giulio Andreotti
(Servillo), por sete vezes
primeiro-ministro italiano, sente o círculo se fechar cada vez mais próximo
sobre ele, com relação aos escandâlos associados com o envolvimento do governo
italiano e a Máfia e a loja maçônica ultra-conservadora P2, que resultou na
morte de várias personalidades públicas. Andreotti é constantemente atormentado
pelo fantasma de Aldo Moro (Graziosi) e pela culpa que nutre em relação à sua
morte. Extremamente católico e casado desde sempre com Enea (Esposti), confessa
a um amigo próximo que se sentiu grandemente atraído pela esposa de Vittorio
Gassman.
O início do filme
de Sorrentino sugere aproximações com leituras “pop” da história recente
empreendidas pelo cinema europeu contemporâneos a essa produção tal como o
alemão O Grupo Baader Meinhoff
(2008), de Uli Edel. As imagens em câmera lenta de cenas de violências,
entrecortadas por uma montagem dinâmica e as referências aos envolvidos
creditadas na imagem, aliás, voltarão recorrentemente ao longo do filme. Porém,
o cenário de violência e excitação se encontra distante de ser a tônica aqui, o
que deixa a deixa para se pensar enquanto ironia o seu sobretítulo, já que além
de não se observar Andreotti em nenhuma atitude “espetacular”, tampouco se
acompanha o que seria a sua trajetória política ou particular ao longo de
várias décadas, algo que é resumido brevemente em algumas linhas logo antes de
iniciada as imagens. Muito menos se aproxima do nível de abstração alegórica
próximo da metafísica de um Sokurov. De rosto sempre impassível, mas corpo
extremamente tenso, Andreotti é observado no filme como um grande “enigma”. A
rigidez robótica de seus movimentos e mesmo de sua fala, apenas uma vez
rompidos de fato por um momento de eloquente confissão de se sentir
insatisfeito com sua postura em um verdadeiro jorro verbal, é explorada ao
ponto da caricatura mimética que tem acompanhado algumas produções que fazem
referência a figuras no mundo do poder político recente (A Dama de Ferro, O Último
Mitterrand, A Rainha). Porém, o
filme fica a meio caminho entre essa postura meramente mimética e o cipoal de
atividades ilícitas efetivadas e apresentadas de modo demasiado acelerado para
serem minimamente compreendidas por alguém que não tenha conhecimento do que se
trata. Em determinados momentos, o filme se distancia da montagem rápida e se
detém em longos planos, sobretudo o que um jornalista enumera de forma
incessante a quantidade de eventos nas quais Andreotti poderia se encontrar,
direta ou indiretamente vinculado. Ao início do filme surge uma frase de
ninguém menos que a mãe de Andreotti, que afirma “que se não se pode falar bem
de uma pessoa, melhor não falar”. O filme, de fato, não fala nem mal nem
tampouco bem de Andreotti. Não é através de uma perspectiva moral, ainda quando
retrospectiva (caso de Bom Dia, Noite)
que o filme se inscreve. Lucky
Red/Studio Canal/arte France Cinéma/Indigo Film/Babe Film/Parco Film/Barter
Films para La 7. 110 minutos.
Comentários
Postar um comentário