Filme do Dia: Wild Oranges (1924), King Vidor


Wild Oranges (EUA, 1924). Direção: King Vidor. Rot. Adaptado: King Vidor & Tom Miranda (entretítulos). Fotografia: John W. Boyle. Cenografia: Cedric Gibbons. Figurinos: Sophie Wackner. Com: Frank Mayo, Virginia Valli, Ford Sterling, Nigel De Brullier, Charles A. Post.
John Woolfolk (Mayo) passa a viajar a esmo após a morte acidental da noiva em um acidente no qual ele dirigia a carruagem. Em uma de suas aventuras com o ajudante do barco Paul (Sterling) ele vai parar em uma remota região na costa da Geórgia, na qual conhece e se apaixona por Mollie (Valli), uma garota que também procura uma chance de sair de um lugar tão ermo, em que vive somente com o avô (Brullier) e um ajudante atoleimado, Iscah (Post), que ela descobrirá posteriormente se encontrar apaixonado por ela e querendo dar cabo de John. John abandona o local, procurando não voltar a se envolver emocionalmente com outra mulher. Porém, muda de idéia e retorna ao mesmo local, para a surpresa que Mollie, que se encontrava completamente desenganada quanto ao seu futuro. Quando decidem partir levando o avô de Mollie, o plano é atrapalhado pela presença de Iscah, que mata o velho e prende Mollie. John vai até a casa e enra em confronto direto com Iscah. Ele consegue levar Mollie até o barco e partir, ainda que Iscah atinja Paul.

Seu início, com a bela seqüência da morte da noiva, provocado por um mero saco entrevisto logo no primeiro plano, que assustará os cavalos, assim como suas curtas cenas filmadas em locação pontuadas por inúmeros fades e o habitual retrato de Vidor das relações entre a modernidade e o “atraso” através das relações amorosas, tema recorrente de seus filmes como A Noite Nupcial (1932) e Pássaro do Paraíso (1932), promete bem mais do que efetivamente cumpre. Não deixa de ser involuntariamente cômico o modo como a altamente arredia Mollie que, como o avô e Iscah, apenas espreitam os recém-chegados de longe, rapidamente se entrega de corpo e alma a John, demonstrando uma ausência de vitalidade que afirma ser herdeira “congênita” de seu avô e pai. Se tal postura sugere uma visão extremamente passiva da mulher, o mesmo não pode ser dito do momento da corte, em que sempre ela toma a dianteira. O que demonstra que tal passividade sabe o momento certo em que deve ser “utilizada”. Não menos interessante, e igualmente de modo completamente involuntário, é se perceber que a amizade com um “assexuado” e ligeiramente feminino Paul será o complemento para sua relação afetiva completamente estéril com as mulheres por parte de John, desde a morte de sua noiva há 3 anos, trauma que somente poderá ser curado por essa mulher “diferente”. Ainda que exista o evidente paralelo com as “laranjas selvagens” a que faz menção o título, a “selvagem” aqui é domesticada antes mesmo de qualquer reação do herói. Permanece, entretanto, a evidente alusão erótica, sugerida pelo entretítulo que comenta que seu gosto amargo somente propiciará uma real efetivação de seu sabor após uma primeira degustação – no momento em que Mollie se sente visivelmente atraída por John, ele encontra justamente com os lábios viscosos da laranja ou ainda pelo banho despida que Mollie toma e é ligeiramente entrevisto quando da aproximação do barco. Ainda que tenha sido visivelmente influenciado por Griffith, Vidor não consegue ter a mesma sutileza do mestre no trato com os atores – e a representação do avô permanentemente assustado é apenas o  seu testemunho mais evidente. Goldwyn Pictures Co. 88 minutos. 

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