Filme do Dia: O Mercador de Almas (1958), Martin Ritt
O Mercador de Almas (The Long Hot
Summer, EUA, 1958). Direção: Martin Ritt. Rot. Adaptado: William
Faulkner, Irving Ravetch & Harriet Frank jr., baseado nos contos Barn
Burning, The Spotted Horses e no romance The
Hamlet, de Faulkner. Fotografia: Joseph
LaShelle. Música: Alex North. Montagem: Louis R. Loeffler. Dir. de arte: Maurice Ransford
& Lyle R. Wheeler. Cenografia: Eli Benneche & Walter M. Scott.
Figurinos: Adele Palmer. Com: Paul Newman, Joanne Woodward, Anthony
Franciosa, Orson Welles, Lee Remick, Angela Lansbury, Richard Anderson, George
Dunn.
As jovens e ricas Clara (Woodward) e Eula (Remick) Varner dão
carona a um jovem desconhecido na estrada, Ben Quick (Newman), recém-foragido
do Massachussets, onde foi suspeito de atear fogo em propriedade de um
fazendeiro local. Quick decide trabalhar para a família que controla as maiores
riquezas do local e logo descobre ser os mesmos Varner. Admitido, demonstra
rápido seu tino para os negócios, enfurecendo de ciúmes o imaturo filho do
patriarca Will (Welles), Jody (Franciosa), ao mesmo tempo que corteja Clara,
sensível e presa a uma corte interminável com o sofisticado, porém pouco viril,
Alan Stewart (Anderson). Will, no entanto, acredita que Ben possui a mesma
pujança para herdar seus negócios e lhe render netos e não apenas lhe propicia
um lugar de destaque nos negócios como chama-o para morar com sua família. A
tensão chega ao seu grau máximo quando Ben engana Jody, lhe vendendo a própria
propriedade insalubre que havia sido herdada de Will. Indignado, Jody ateia
fogo no celeiro onde se encontra o próprio pai, retirando-o no último momento.
O pai, comovido com a súbita mudança de planos do filho, finalmente aceita-o,
ao mesmo tempo que torna pública sua relação com a amante Minnie (Lansbury).
Clara e Ben, principal suspeito de ter provocado o incêndio, finalmente também
acertam suas diferenças.
Esse é mais um retrato das diferenças geracionais que os filhos da
burguesia agrícola americana possuem com a figura poderosa e marcial paterna,
igualmente evocada em inúmeras adaptações de Tennessee Williams do mesmo
período. Mesmo que aparentemente progressista (Ritt é identificado como um
realizador engajado no cenário cinematográfico americano), substancialmente é
presa de uma mesma visão liberal conservadora, evocativa de um sucesso mais
associado a garra dos pioneiros, tipos self made men, como Will e
seu “filho adotivo” Quick, que as sutis estratégias associadas ao mercado que
tornarão cada vez mais marginais figuras como eles. Menos interessante,
portanto, em sua descrição social que nas cada vez mais complexas
relações de gênero e na apresentação de uma masculinidade eminentemente
ameaçada e uma sexualidade feminina cada vez mais expressiva, o filme termina
com o abrupto e inverossímil “final feliz” também típico da época e bem diverso
do desenrolar da trama de autores tão melancólicos como Williams ou Faulkner. Jerry Wald Productions para a
20th Century-Fox. 115 minutos.
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