Filme do Dia: A Movie Star (1916), Fred Hibbard
A Movie Star (EUA, 1916). Direção: Fred Hibbard. Com:
Mack Swain, Louella Maxam, Mai Wells, Phyllis Allen, May Emory, Julia Faye,
Harry McCoy, Nick Cogley, Frank Hayes.
O
ídolo das matinês Handsome Jack (Swain) faz questão de ser reconhecido na
entrado do cinema que exibe um filme ao qual protagoniza. Enquanto luta pelo
amor da heroína, Nell (Maxam), também desperta a emoção de mulheres na plateia
(Emory, Faye) e os ciúmes de seus respectivos maridos. Ao final da sessão,
quando os maridos são postos de lado pela tietagem junto a Handsome Jack, sua
mulher (Allen) surge na esquina e espanta todos os seus fãs, espancando-o e a
quem mais se encontrar por perto.
Ao
contrário das produções triviais do estúdio, esse curta apresenta uma rica
representação de motivos aparentemente associada ao momento imediatamente
anterior da produção cinematográfica, mas igualmente válido para as produções
contemporâneas – se a referência ao empresário de um Nickelodeon parece sugerir
o momento anterior, o filme dentro do filme, descrito com uma relativa minúcia
de detalhes habitualmente pouco comum na história do cinema, e particularmente
no período, aproxima-se das produções rotineiras do estúdio que tomavam o
western como base (a exemplo de His
Bitter Pill, do mesmo ano, dirigido pelo mesmo Hibbard e igualmente com a
dupla principal). Ainda que His Bitter
Pill tenha sido lançado alguns meses após, o fato do personagem aqui, tal
como naquele, jogar-se de bruços e espernear revoltado quando observa que a
garota que ama se interessa por outro e ser consolado por sua mãe, sugere ser
uma recorrência na persona cinematográfica de Swain. E as referências satíricas
ao universo do cinema abrangem desde o próprio protagonista, batizado como
Handsome, embora seja visivelmente o oposto do padrão de beleza masculina de
então nas telas até a presença de um aloprado músico que participa ativamente
da projeção com seu piano, das interrupções na projeção para destacar a
presença do astro na sala, do esnobismo afetado de um homem de teatro que
acredita poder entrar no espetáculo por fazer parte de uma companhia
shakespeariana, num momento em que o cinema ainda era visto com olhar
atravessado por boa parte da classe média de referências artísticas mais
tradicionais, e que é o único praticamente – além dos maridos enciumados – a
não se render ao astro. Esse, por sinal, é um poço de vaidade, puxando em
inúmeros momentos uma claque para que aplauda a si próprio, e se emocionando
mais que qualquer um com sua própria performance na tela. Não escapam aos
detalhes do filme o fato da sala de cinema ser plana e a dificuldade de quem se
encontra atrás, que tem que mover o pescoço para observar a cena – algo que
ocorre, por exemplo, com o homem que se encontra por trás do mais alto Handsome Jack. Por fim, até o logotipo da própria
Keystone é satirizado nas cartelas do filme que se assiste. A qualidade da
imagem projetada na tela, nos momentos em que assistimos os espectadores
assistirem ao filme, supõe ser uma projeção da fato, atualizando também em
termos de técnica o que um filme cômico do início do século – Uncle Josh at Moving Pictures Show - já fazia referência. Não deixa de ser
curioso, que os créditos destaquem sobretudo os atores do filme dentro do filme
em relação aos que se encontram na exibição do filme, muitos deles sequer
creditados. As olhadas para a câmera a guisa de comentário, ainda que mais
discretas que as habituais no Primeiro Cinema persistem. Keystone para Triangle. 23 minutos e 48
segundos.
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