Filme do Dia: Senna (2010), Asif Kapadia


Senna (Reino Unido, 2010). Direção: Asif Kapadia. Rot. Original: Manish Pandey. Fotografia: Jake Polonsky. Música: Antônio Pinto. Montagem: Chris King & Gregers Sall.

Documentário que consegue blindar sua descrição da ascensão meteórica de Ayrton Senna ao mundo da F1 até sua trágica morte, em 1994, com uma dimensão quase épica, repleta de conflitos e tensões, que tornam-o mais instigante que outras cinebiografias semelhantes lançadas por volta da mesma época e também com grande apelo de público (tais como George Harrison: Living in the Material World). Ao impor sua narrativa de forma algo épica, o filme torna-se interessante não apenas aos aficionados do esporte. Calcado basicamente em extenso material de arquivo e entrevistas com não mais que um punhado de pessoas, mais extremamente relevantes, tais como Alain Prost, Sid Watkins, Reginaldo Leme e Ron Dennis, acaba-se fugindo da tentação de se aproximar das meras falas anedóticas para traçar, inclusive, relações complexas, como a da rivalidade com Prost, defendida por esse com unhas e dentes até um episódio que o fez repensar sua relação com Senna, tornando-se inclusive membro participante do Instituto Ayrton Senna, que ajudou nessa produção. Na própria forma como é organizado o discurso de Prost, tem-se o momento em que a inimizade transparece não apenas nos vídeos da época, como quando ele sai se dizendo “enojado” com o comportamento de Senna, como no próprio depoimento ao documentário, para uma situação de ser saudado com uma faixa pelo próprio Senna, às vésperas de sua morte, e ser lembrado de forma emotiva pelo ex-rival. Certamente não se encontra livre de alguns excessos, típicos, como muitas outras das artimanhas que utiliza próximas do universo ficcional, como a de voltar a imagens de muitos dos que foram próximos de Senna, no momento de seu funeral, como Xuxa, Adriane Galisteu, Prost, Frank Williams, Barrichello, seus pais e sua irmã, etc. Porém, o mais interessante é justamente sua compreensão não apenas do fenômeno, obsessivo ao ponto de se fazer guiar para quase os seus próprios limites, como quando vence seu primeiro GP no Brasil com um carro que estava com a caixa de câmbio quebrada, como de todo o “circo” da Fórmula 1. Esses últimos incluem evidentemente interesses econômicos e políticos, como no momento em que o GP de Mônaco é interrompido, no qual Senna se via próximo de roubar do veterano Prost sua (de Senna, evidentemente) primeira vitória ou ainda as impagáveis cenas de conflito nas reuniões dos pilotos com os dirigentes, sendo que numa delas Senna se retira indignado, contando com a adversidade da maioria dos presentes, incluindo seu notório desafeto, Nelson Piquet. Ou ainda o  momento no qual o chefão Jean-Marie Balestre afirma peremptório: “Minha decisão é a melhor decisão.” É notório o direcionamento para um potencial público brasileiro, dada a extensa presença de narrações de Galvão Bueno e, sobretudo, de depoimentos de Reginaldo Leme. Destaque para o momento no qual Senna discute de igual para igual com Jackie Stewart, afirmando que ele estava sendo tendencioso em seus argumentos, demonstrando seu crescente amadurecimento, assim como para a tensão visível que o acompanhou nos seus últimos momentos. Universal Pictures/Working Title Films para UPI. 162 minutos.




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng

A Thousand Days for Mokhtar