Filme do Dia: Olympia Parte I - Festa das Nações (1938), Leni Riefensthal

 


Olympia Parte I – Festa das Nações (Olympia 1. Teil – Fest der Volker, Alemanha, 1938). Direção, Rot. Original e Montagem: Leni Riefensthal. Música: Herbert Windt & Walter Gronostay.

 

Riefensthal, sem dúvida alguma, lançou o modelo como os esportes passariam a ser registrados audiovisualmente nessa maratona cinematográfica que parte de um prolongado – e kitsch diga-se de passagem – prólogo em que a estatuária grega literalmente ganha a vida nos corpos de atlestas semi-despidos ou completamente despidos (em penumbra) que efetuam algumas das ações mais tipicamente associadas ao esporte olímipico e no berço de onde surgiu, a Grécia, sendo a tensão e o movimento de seus músculos destacados na imagem em câmera lenta, recurso que Riefenstahl fará uso particular ao longo do filme, igualmente no momento das competições. Às mulheres é reservado nesse prólogo não mais que alguns movimentos em sincronia que mais se assemelham aos malabarismos de uma torcida organizada. Despidas e em conjunto o movimento das garotas é entendido como decorativo, enquanto aos homens cabe o papel de transportar por boa parte da Europa a pira olímpica. A música também atua como um aliada ao longo de todo o filme. Do tema inicial do prólogo às intervenções em que os acordes se mesclam ao momento em que os dardos atingem o chão, passando pelo tom majestoso com o qual se refere aos vitoriosos atletas que vencem o salto em altura, sobretudo quando observados a partir de uma câmera posicionada de baixo. Mesma que não sejam negadas fartas imagens da vitória de atletas americanos, sobretudo negros, não falta um momento em que o narrador aponta que são dois negros contra quatro brancos numa disputa, como se a disputa racial se sobrepusesse à nacional ou enfatiza o fato de um dos concorrentes ser negro, além da vitória na prova mais nobre do atletismo, vencida pelo maior medalhista da olímpiada, o atletra negro Jesse Owens (seu sorriso de praxe quando vitorioso surge quase como um plano repetido) está longe de ter o peso dramático que o filme posta em outras competições, fazendo o uso do tempo na prova dos 2 mil metros parceiro do suspense. Ou fazendo uso não apenas, como igualmente, do espaço, tornando grandemente dramáticas as provas do salto em altura, que adentram a noite, com os atletas praticamente recortados contra um todo negro em que apenas se destaca a própria trave, superada ou derrubada. Chama a atenção a falta de homogeinedade com que os atletas se vestem, alguns com pulôveres e calças compridas, enquanto outros de sumários calções e camisetas, praticamente em todas as modalidades. Outra característica onipresente do filme é a de planos de reação das torcidas das respectivas nacionalidades aos sucessos ou fracassos de seus compatriotas. Se a câmera lenta é dominante, é quase impensável acreditar que não existe aceleração  nas imagens que apresentam o revezamento masculino no atletismo, tal a impressão de velocidade que os corpos se impõem em relação ao fundo da imagem. Nunca se observa o fuhrer tão entusiasmado, inclusive levantando-se e gritando palavras de encorajamento,  quanto no que parece ser a vitória certa no revezamento feminino do atletismo para as alemãs até que uma delas, já próximo da finalização da prova, deixa cair o bastão.  Olympia Film GmbH/COI/Tobis. 121 minutos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng

Filme do Dia: El Despojo (1960), Antonio Reynoso