Dicionário Histórico de Cinema Sul-Americano#93: Edgardo Cozarinsky
COZARINSKY, EDGARDO (Argentina, 1939-). Nascido em Buenos Aires, Edgardo Cozarinsky é um roteirista de todos os gêneros, um realizador de ensaios fílmicos e de ficções, e um viajante pelo mundo. Seus bisavós foram imigrantes judeus ucranianos, e sua mãe deu-lhe o nome em tributo a Edgar Allan Poe. Quando jovem foi ávido cinéfilo e leitor; não surpreendentemente estudou literatura na universidade de Buenos Aires. Escreveu seu primeiro livro em 1964, sobre Henry James, e iniciou uma longa viagem à Europa e aos Estados Unidos em 1966. Em sua volta, focou em se tornar cineasta, e em 1970 concluíria um filme de longa-metragem, filmado aos finais de semana, ao longo de mais de um ano, com o desafiador título...pronuncia-se pontos suspensivos. Cozarinsky sabia que a censura iria prevenir seu filme underground de ser exibido na Argentina, mas exibiu-o em festivais no estrangeiro.
Em meio à turbulência política, abandonou a Argentina pela Europa, onde se instalou em Paris. Seu primeiro filme por lá foi Les Apprentis Sorciers, um thriller-comédia ficcional sobre exilados latino-americanos vivendo em Paris que "interpretam" a Revolução. Editou uma coleção de escritos de Borges sobre o cinema, que "desapareceu" na Argentina em 1974, mas seria eventualmente publicada em uma edição expandida na Espanha, em 1981, intitulada Borgen en/y/sobre Cine (1981), e traduzida para o inglês em 1988. Seu filme, talvez sua obra mais conhecida, La Guerre d'une Seul Homme (1981), teve sua estreia norte-americana no Festival de Nova York, em 1982. Este ensaio fílmico contrasta os diários de guerra de um oficial nazista vivendo em Paris, Ernst Jünger, com cinejornais franceses da Ocupação. Algumas vezes a original e bombástica voz do cinejornal é utilizada para acompanhar imagens que haviam sido selecionadas em uma categoria - por exemplo, o mundo da "moda parisiense" - mais que uma base cronológica, mas frequentemente o pessimismo e palavras distantes de Jünger proporcionam uma crítica intelectual de Vichy. Em uma entrevista com Thomas Elsaesser, em 1983, Cozarinsky falou de "seu discrédito do documentário e da ideologia do cinéma vérite ou cinema direto" e sugeriu que desejava criar um cinema "indireto" através de suas práticas de cinema-ensaio (p. 20).
Cozarinsky realizou mais três filmes nos anos 80 na França e escreveu um livro, Vodú Urbano (1985), que se tornou um sucesso cult imediato. Ao final do regime militar foi finalmente capaz de visitar a Argentina, aonde realizou um longa na Patagônia, Guerreros y Cautivas (1989), uma narrativa ficcional da opressão colonial. (IMDb data o filme como de 1994, implicando que foi realizado após Boulevard du Crépuscule, sou incapaz de confirmá-lo (*)). Em 1992, Cozarinsky realizou um documentário sobre dois famosos atores franceses, Falconetti e Robert Le Vigan, que se exilaram na Argentina durante e depois da Segunda Guerra Mundial, Boulevard du Crépuscule propocionando-lhe a visita de locais de sua infância em Buenos Aires. Realizou outros filmes-ensaios e documentários, alguns dos quais proporcionaram-lhe revisitar à Argentina, mas tendeu a focar em temas voltados ao cinema, destacadamente com Citizen Langlois, sobre o fundador da Cinématheque Française, e Le Cinéma des Cahiers (O Cinema da Cahiers du Cinéma, 2001). Em 1995, Citizen Langlois foi o terceiro dos filmes de Cozarinsky a ser exibido no Festival de Cinema de Nova York. Em 1999 foi diagnosticado com câncer, e no novo milênio tem passado a maior parte de seu tempo escrevendo e vivendo em Buenos Aires, apesar de continuar a viajar frequentemente. Entre os seus mais aclamados escritos publicados estão uma coleção de contos, La Novia de Odessa (2001), e um romance aludindo a seu passado judeu/ucraniano El Ruffian Moldavo (2004).
Cozarinsky realizou mais três filmes na Argentina: Ronda Nocturna (Ronda Noturna), sobre um prostituto de rua gay em Buenos Aires, exibido em inúmeros festivais gays e lésbicos de cinema, incluindo Grenoble, Hong Kong, Londres e Paris; Apuntes para una Biografía Imaginaria (2010), um filme-ensaio indiretamente autobiográfico, iniciando com três postais do Vietnã - um de um soldado norte-americano, um de um civil vietnamita e um terceiro de um soldado vietcongue, com narração de Cozarinsky - e findando com Cozarisnky dançando tango na Europa; e Nocturnos (2011). Uma obra de final em aberto que o programa chama de "murmúrio dos seres humanos", Apuntes para una Biografía Imaginaria teve sua estreia mundial no Festival Internacional de Cinema Independente de Buenos Aires (BAFICI), com o diretor presente.
Texto: Rist, Peter H. Historical Dictionary of South American Cinema. Plymouth: Rowman & Littlefield, 2014, pp. 191-92.
(*) N. do E: No IMDb atualmente consta como de 1989, como faz o autor.
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