Filme do Dia: El Otro Francisco (1974), Sergio Giral

 


El Otro Francisco (Cuba, 1974). Direção: Sergio Giral. Rot. Adaptado: Julio Garcia Espinosa, Sergio Giral, Tomás Gutiérrez Aléa & Hector Veitia, baseado em romance de Anselmo Suárez y Romero. Fotografia: Livio Delgado. Montagem: Nelson Rodríguez. Figurinos: Mirian Dueñas. Com: Alina Sanchez, Miguel Benavides, Ramoncito Veloz, Armando Bianchi, Margarita Balboa, Alden Knight, Adolfo Llauradó.

A partir do suicídio do escravo Francisco (Benavides), vítimas de constantes maus tratos, volta-se para toda uma vida de humilhações e privações. Apaixonado pela escrava Dorotea (Sanchez), constantemente vítima do assédio e violência sexual de Ricardo (Veloz), filho da dona do engenho. Dentre as várias manifestações contrárias perpetradas pelos escravos contra a opressão cotidiana vivida estão os danos provocados ao maquinário, as constantes tentativas de fuga e o fogo ateado ao canavial, assim como o assassinato de um dos capatazes que os torturava física e psicologicamente com requintes de crueldade.

Nessa versão, infelizmente incompleta de um filme que conta originalmente com quase 100 minutos, observa-se boa parte das diretrizes do que Espinosa, não por acaso um dos roteiristas, clamava como um “cinema imperfeito”. Dentre os valores emulados por Spinosa se encontra desde a negação de um cinema voltado para “valores de produção” quanto uma busca de expor uma situação político-social sem necessariamente apontar para um veredito moral, ainda que ele se encontre, ao menos no caso desse filme, mais do que posto. Um dos elementos que torna o filme mais interessante talvez seja também um dos que lhe causa mais entraves, em termos de coerência  narrativa. Isso se deve a sua aberta opção pelo comentário direto a respeito das diferenças centrais com relação ao texto literário (diferenças que em casos brasileiros contemporâneos como São Bernardo, de Hirzsman, havia sido incorporada no próprio filme de forma mais sutil). Aqui, de forma didática, mais de uma vez congela-se a imagem e se expõe as diferenças, como quando o filme decidemente volta às costas para a narrativa romântica que havia impregnado seu antecedente literário para apresentar uma situação em que os elementos econômicos, como é caso do desejo inglês de transformar a força escrava em liberta  para incrementar uma produção mais racional e lucrativa para eles próprios, passam a ser tão ou mais importantes que o drama pessoal vivenciado por Francisco e outros. Tal opção, no entanto, requer um preço a ser pago, que é igualmente a secundarização de toda a estrutura dramática que havia norteado o filme desde o início, mesmo com suas eventuais digressões e comentários. Ainda que tal estratégia “desconstrutiva” por vezes pareça não ser grandemente fluente, ela se encontra a par com a proposição mais ampla do próprio filme de corajosamente ser mais uma releitura histórica marxista do que propriamente uma mera adaptação da obra original. ICAIC. 65 minutos.

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