Filme do Dia: Sete Anos de Azar (1921), Max Linder

 


Sete Anos de Azar (Seven Years of Bad Luck, EUA, 1921). Direção e Rot. Original: Max Linder. Fotografia: Charles Van Enger. Com: Max Linder, Alta Allen, Ralph McCoullough, Betty K. Peterson, F.B. Crayne, Chance Ward, Hugh Saxon, Thelma Percy.

Max (Linder), um dândi apaixonado por uma garota de sua classe, Betty (Allen), após uma série de mal entendidos, que ele credita ao espelho que quebra em sua casa, numa trapaça montada pelos criados, tenta esquecer dela viajando sem destino. Logo, no entanto, torna-se vítima de assaltantes e para embarcar no trem e após o embarque, é perseguido pelos funcionários da ferrovia, por não ter pago. Em uma das paradas, passa-se pelo chefe da estação (Saxon) que havia saído e flerta com sua filha (Percy). Quando desembarca, é finalmente descoberto por toda um pelotão de policiais que o perseguem até o zoo, onde ele entra na jaula dos leões e faz amizade com uma leoa, impedindo a aproximação dos policiais. Logo, no entanto, ver-se-á na cadeia, com um prisioneiro (Anderson) bem mais forte e alto, que pede-lhe obcecadamente que coce suas costas. Quando vão receber o veredito do juiz, Max flagra o que seria o casamento de sua querida com seu pretenso amigo (Crayne) e assume o lugar dele.

Mestre da sutileza, Linder extrai humor menos de malabarismos excessivos com o corpo, como boa parte de seus colegas contemporâneos, que de gags visuais dignas do universo da animação (e não apenas da animação dada a influência que exerce via O Diabo a Quatro dos Irmãos Marx) posterior, como a mímica do falso reflexo no espelho ou o jogo de esconde-esconde com o cobrador de passagens no trem. Tampouco se encontra  preocupado em seguir arcos dramáticos – aqui motivos triviais como os dois acima descritos não são perdidos mas achados, que se estendem por bastante tempo. Sem deixar de escamotear as relações sociais, de modo bem menos evidente e paternalista que Chaplin, como quando Max se traveste de faxineiro negro do trem e corteja a mesma mulher que flertara enquanto dândi branco pouco antes. Ou ainda o que a heroína chora e suas lágrimas são lambidas pelo cão de estimação.   O que não quer dizer que tais peripécias físicas estejam completamente ausentes, como as estripulias à beira do trem comprovam. De longe a mais hilária das cenas é a que Max gruda sua mão no ombro da mulher que corteja, desnudando seu vestido e se desepera com a chegada de seu pai. E a imagem de um Max altaneiro e triunfante, a fazer troça de seus perseguidores, agitando o vestido da garota é o triunfo de sua própria anarquia, que infelizmente não agradaria os norte-americanos, sendo esse o primeiro de apenas três filmes e de seu retorno à Europa e posterior suicídio quatro anos após. À perseguição dos policiais próximo ao final remete aos Keystone Cops de Sennett, e tampouco deixa de haver uma referência mais adiante as bathing beauties do mesmo. Destaque para a cena de Max com a leoa, no qual se esparramam e rolam dentro das grades do zoológico. E o olhar que lança para onde se direciona o seu coçar de costas distraído, o quadril do seu companheiro de cela. Com a situação idílica e romântica que sonha com sua amada se transformado no companheiro de cela bruto ao qual afaga e beija. Não é nada improvável que momentos de alegria incontida de Linder ao descobrir que a garota que ama está novamente disposta a encontra-lo, e que ele desperdiça em uma cena em que se torna endiabrado e cego pelo jazz, em que ele praticamente voa carro afora tenham influenciado igualmente Chaplin. Versão de 2003, musicada por Robert Israel, referência em trilhas para o cinema silencioso. Max Linder Prod. para Robertson-Cole Dist. Corp. 61 minutos.

 

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